Os meus livros de Outubro

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Para começo de viagem, temos turbulência. O autor de O Fim das Políticas de Raça, livro que abre porta aos livros do mês de Outubro, afirma: “Os racistas podem ser negros ou brancos, e os alvos do racismo podem ser tanto brancos como negros.” Não é esse o discurso habitual dos activistas, mas Coleman Hughes, o autor de O Fim das Políticas de Raça, não desarma e responde-lhes: «Nesta altura, já deveria ser evidente que muitos dos autoproclamados “anti-racistas” não passam de racistas disfarçados.»

Coleman Hughes, repito o nome e vale a pena decorá-lo, tal como o linguista John McWhorter e o professor Glenn Loury, faz parte dos intelectuais negros americanos que estão contra a visão de vitimização e de ressentimento de movimentos como o Black Live Matters. Este é um livro corajoso e de grande exigência racional que manda às urtigas todos os que estão «agarradinhos» à pigmentação da pele. É um dos mais veementes de Os Livros Não se Rendem que já publiquei. Uma honra fazê-lo com a Fundação Manuel António da Mota e a Mota Gestão e Participações como mecenas e o meu amigo Luís Parreirão como interlocutor.

E agora tenho de ser mais breve, senão os leitores desta newsletter correm comigo. Sem turbulência, Cédric Lewandowski, que foi director do gabinete civil e militar do ministério da defesa francês, escreveu, por ser um especialista na matéria, uma defesa da que é hoje a forma de energia segura e limpa que mais vantagens oferece no combate às alterações climáticas, a energia nuclear. A afirmação é polémica, mas em O Nuclear, Lewandowski, ao contrário deste meu estilo de pistola na mão, só usa argumentos serenos e científicos. E desengane-se quem pense garantir a soberania desta nossa Europa sem o nuclear! A ler, com serenidade.

Desanuviemos: a beleza e o talento da actriz Carmen Dolores são o bálsamo que os meus leitores me andavam a pedir. Com a autoria de textos do seu filho, Rui Veres, a Fotobiografia de Carmen Dolores é uma viagem encantatória de imagens e memórias, do cinema ao teatro, passando pela rádio e televisão. Ficou tão bonito, o livro: não espanta, tão bela e envolvente era a imagem de Carmen Dolores! E, por isso, a Fundação Calouste Gulbenkian e a Sociedade Portuguesa de Autores disseram presente, associando-se à obra.

E agora uma digressão à vol d’oiseau? Ora, vamos lá. Tenho aqui dois romances. E sem rodriguinhos, sempre em linha recta, direi que:

  1. Um é português, a estreia de Carlos Ferreira. Chama-se O Regresso de Larry Miller, com um assassino de 12 mulheres – prostitutas, diz ele – como protagonista. Uma narrativa que não nos dá descanso. Lê-se numa gloriosa noite (vá lá, duas!).
  2. E não sei quantas noites quererão passar com Emmanuelle, A Lição de Homem? Sim, é o romance erótico clássico de Emmanuelle Arsan, a que até André Breton, pai e mãe do surrealismo, louvou o esplendor literário. E sim – oui, oui – é uma delícia de sensualidade e de liberdade de costumes, a que, no cinema, Sylvia Kristel deu vida. Um erotismo que dá vinte a zero a essas coisas de sombras e coisa e tal que por aí andam. Emmanuelle, Emmanuelle, Emmanuelle.

Não é ficção, mas é como se fosse ficção. Rui de Azevedo Teixeira, o meu autor-comando de Vida Aventureira de um Homem de Letras, quis e escreveu uma biografia de romancista: Jaime Neves, Homem de Guerra e Boémio. Compreendo que não queiram aceitar a minha palavra de honra de que é um grande livro. Mas vejam, um livro que é elogiado sem reservas pelo severo Ramalho Eanes e pelo retumbante Manuel Alegre tem mesmo de ter altas qualidades. Lê-se como um romance e é muito mais do que o 25 de Novembro, essa porta final que nos assegurou a democracia.E acabo a dar a palavra a Marco Neves. Professor de Linguística na Universidade Nova, vem pôr-nos a língua de fora com este seu Queria? Já Não Quer? Mitos e Disparates da Língua. É o 14.º livro do professor Marco Neves na Guerra & Paz e trata das coisas singelas da língua portuguesa que muitas vezes nos atormentam, tais como, «Será que o famoso palavrão acabado em “-alho” começou como um cesto nas caravelas? Será que a palavra inglesa “tea”» vem de “Transporte de Ervas Aromáticas”? Será que “não há nada” é erro? Será que “queria um café” deveria ser “quero um café”?» A imensa legião de fiéis do professor Marco Neves já faz filas nas livrarias. Comprem também: vão divertir-se, e a rir é que se aprende.

Agora só falta falar dos novos romance dessa feminíssima chancela que é a Euforia, da responsabilidade da minha filha, e – eu que sempre quis ser Pôncio Pilatos –  lavo daqui as minhas mãos.

A Rita Fonseca deixou-se atrair pelo crime, mas não um crime qualquer e muito menos crime sórdido. No romance que ela escolheu, Os Crimes do Puzzle de Natalde Alexandra Benedict a força motriz é o crime, sim, mas um crime cozy natalício. Se gostam, como eu gosto, de Miss Marple e de Sherlock Holmes, vão lê-lo de um fôlego e depois vão quere oferecê-lo a toda a família no Natal.

E fecho em regime de espanto: sei lá bem que educação terei dado à minha filha, que ela me aparece, também para o Natal, com este Padre, romance da explosiva Sierra Simone, um romance com todo o ar de coisa proibido, a explorar tabus e BDSM (acrónimo que nem me atrevo a descriptar).

Padre, como o título indica, tem como protagonista um sacerdote católico. Vão, por favor, ouvir o que ele, pela primeira vez, está também a ouvir no confessionário: é a voz sensual, lábios vermelhíssimos, da jovem Poppy Danforth. Daí em diante, perdoa-lhes, Senhor, os pecados, tantos pecados e a tão grande culpa. E assim termino, com os pecados, mil pecados, a virem, pela mão de Padre, em velocidade, dos tops americanos para as livrarias portuguesas.

Boas leituras e comprem muitos livros – podem nem ser os da Guerra e Paz – autores e editores agradecem!

 

 

Manuel S. Fonseca, editor
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