O pacto oculto assinado por Hitler e Estaline

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A 23 de agosto de 1939, Hitler e Estaline assinaram um Pacto de Não-Agressão. O documento, que parecia promover a paz, foi o gatilho para a invasão da Polónia pelo exército nazi, oito dias depois. Por baixo da mesa, o Führer e o líder soviético acordaram dividir o território polaco. Com isso, abriram caminho para a II Guerra Mundial. No livro “O Pacto Nazi Soviético“, Manuel S. Fonseca revela como dois políticos antagónicos se uniram para uma causa comum que devastou a Europa e o mundo. E hoje há indícios de que podem estar a desenhar-se novas “alianças do mal”.

Em tempos de guerra, não valem apenas os documentos oficiais que ficam para os anais da história. Por vezes, há acordos que se firmam em segredo e que mudam o curso dos acontecimentos. Foi o que se passou a 23 de agosto de 1939, quando Hitler e Estaline assinaram um Pacto de Não-Agressão. O documento, que parecia promover a paz, foi o gatilho para a invasão da Polónia pelo exército nazi, oito dias depois. Por baixo da mesa, o Führer e o líder soviético acordaram dividir o território polaco. Com isso, abriram caminho para a II Guerra Mundial. No livro “O Pacto Nazi Soviético”, Manuel S. Fonseca revela como é que dois políticos antagónicos se uniram para uma causa comum que devastou a Europa e o mundo. E hoje há indícios de que podem estar a desenhar-se novas “alianças do mal”.

Estandartes com suásticas de um lado, bandeiras vermelhas com a foice e o martelo do outro. Em setembro de 1939, as tropas de Estaline e de Hitler desfilaram juntas na cidade polaca de Brest-Litovsk (hoje na Bielorrússia). Era uma aliança improvável de dois regimes antagónicos.

Os soldados nazis e comunistas abraçaram-se e celebraram a conquista da Polónia. O objetivo de dividir o território polaco tinha sido traçado dias antes, na sombra do Pacto de Não-Agressão, assinado pela União Soviética e pela Alemanha.

“Foi o acordo com Estaline que garantiu a Hitler as costas quentes a leste e providenciou até às tropas do III Reich os meios – petróleo, minerais, borracha e outras matérias-primas – que punham em movimento e exército nazi. Foi Estaline que alimentou o monstro”, escreve Manuel S. Fonseca no livro “O Pacto Nazi Soviético”, editado pela Guerra & Paz, onde revela que esse documento oficial teve protocolos secretos, que foram sempre negados pelo ministro dos negócios estrangeiros soviético que os assinou, Vyacheslav Molotov.

O que juntou então dois líderes com ideologias tão opostas? “Uma comum vontade de expansão e poder”, explica o autor. Mas também o facto de o líder soviético temer “o monstro alemão”. Afinal de contas, “que segurança poderia ter Estaline com aliados que tanta hesitação e frouxidão tinham demonstrado face à ocupação da Checoslováquia? Deixá-lo-iam, sozinho, a enfrentar a besta nazi?”, escreve Manuel S. Fonseca. Este pacto foi, assim, uma garantia de proteção.

 

 

A 24 de agosto de 1939, o ministro alemão Ribbentrop é fotografado a apertar de mão a Estaline, que segura um cigarro com a outra mão, anunciando ao mundo que na noite anterior as duas partes tinham firmado o Pacto de Não-Agressão. A falta de solenidade do líder soviético naquele momento terá irritado Hitler, um antitabagista.

Aquela aliança não foi entendida pelo mundo nem pelos próprios cidadãos dos países que a assinaram. Na União Soviética, a retórica oficial justificava o pacto com a necessidade de “comprar tempo”, dada a debilidade do exército soviético na sequência das purgas de 1936 e 1937 que eliminaram muitos oficiais do exército vermelho. Uns foram fuzilados, outros enviados para os “gulags”.

O texto do acordo que foi divulgado dizia que a União Soviética, em caso algum, se alinharia ou participaria em alianças contra o III Reich. Mas, secretamente, as duas partes acordaram também a partilha de territórios de nações independentes.

Oito dias depois, Hitler invadiu a Polónia. E, a 17 de setembro, as tropas de Estaline “vieram recolher os despojos de uma Polónia dilacerada”. O Pacto Nazi-Soviético foi “um trágico Tratado de Tordesilhas, retalhando a leste e sem estados de alma o mapa da Europa: uma farsa de bastidores que cavou rios de sangue na Europa e no mundo, a começar pelo sangue polaco”, escreve o autor.

Na verdade, “os dois ditadores partilharam logo ali a Polónia e Hitler abençoou o que viria a ser a invasão por Estaline da Letónia, Estónia, Lituânia, Finlândia”, diz ao Negócios Manuel S. Fonseca.

O autor explica no livro que, para Estaline, “segurança era sinónimo de expansão, gerando porventura regimes comunistas nos países ocupados ou ‘protegidos’, cabendo ao regime nazi o odioso da guerra que o exército vermelho seria aparentemente poupado, ruminando numa escondida retaguarda”. E, para Hitler, o pacto “era a luz verde para trucidar a Polónia”.

O abraço de urso

Durante quase dois anos, os dois exércitos estiveram irmanados. Mas, na verdade, tratou-se de um abraço de urso. Estaline viria a ser traído mais tarde por Hitler, quando o exército nazi invadiu a União Soviética.

A convicção do líder soviético na aliança era tal que “entrou num clamoroso processo de denegação quando os seus próprios espiões o alertaram para a traição do Führer e a iminente invasão”, diz.

Hoje, estes acontecimentos merecem ser relembrados. Desde logo porque “o Pacto entre comunistas e nazis” foi “a passadeira vermelha” para começar a II Guerra Mundial, que foi “a mais mortífera das guerras, porventura a mais cruel e bárbara”. Mas também por outro motivo.

Quando olha para a Rússia, Manuel S. Fonseca consegue ver em Putin “o mesmo ímpeto expansionista que levou Estaline a unir-se a Hitler e a alimentar com as suas matérias-primas a máquina de guerra nazi.” A verdade, diz, é que “o que Putin quer, e nisso reverencia Estaline, é expandir a grande mãe Rússia e colonizar a Ucrânia, a Geórgia, a Polónia”.

Mas há mais sinais de alerta. “O que Trump fez na Casa Branca a Zelensky assemelha-se ao que Ribbentrop, o ministro de Hitler, e Molotov, o ministro de Estaline, fizeram aos embaixadores da Polónia em Berlim e em Moscovo: humilharam-nos!” E como o fizeram? “Ribbentrop querendo que o embaixador assinasse uma rendição económica (como Trump) e militar, que o embaixador dignamente recusou; Molotov, entregando em Moscovo uma declaração de guerra mentirosa, apunhalando pelas costas os polacos que estavam a tentar resistir à invasão nazi.”

Com Trump na Casa Branca, o perigo adensa-se porque para ele “tudo é transacionável” e “há conluios que envolvem a Rússia, a China, o Irão”. A história revela que “a URSS quis mesmo entrar no Eixo, ao lado dos nazis de Hitler, dos fascistas de Mussolini, do Japão imperial”. E hoje poderão estar a desenhar-se novas alianças do mal, com pactos também escondidos. A história o dirá.

 

Entrevista de Filipa Lino publicada originalmente no Weekend, em 22.03.2025.

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