Sei que já têm tudo pronto, como convém, para férias, «o pente, o espelho, o batom, e o creme muito bom» para se bronzearem. Façam-me um favor, a mim e à Natércia Barreto, que tão bem cantava «Os Óculos de Sol»: levem também estes livros.
Para começar, dois livros que têm a gentileza de pensar e nos fazer pensar que há coisas que podemos mesmo mudar: mudem o ser que logo se muda a confiança. Leiam A Auto-Ajuda É Como Uma Vacina. Escreveu-o o economista americano Bryan Caplan e o que diz é que não esperem pelo tempo, cubram vocês mesmos, diz ele, o que Camões chamaria o vosso «chão de verde manto», criem a vossa bolha pessoal de felicidade, de significado e de ligação. Como? Leiam esta Vacina.
E logo a seguir leiam o Manifesto Para um Capitalismo Humanista, um livro edificado sobre três pilares: estado, empresas, sociedade civil. Miguel Pina e Cunha, Milton de Sousa e Adolfo Mesquita Nunes são os autores deste livro que luta e consegue desenhar um círculo virtuoso e de progresso. Esta sim, é «mudança de mor espanto».
E aqui estão dois livros que teriam poupado à Natércia Barreto, popularíssima cantora que deve ter a minha idade, a necessidade de levar «os meus óculos de sol, que levo pra chorar, uh uh»: Sempre Mais Além, de Jorge Ventura é a narrativa sedutora de viagens e aventuras de um velejador, que nos levam por mar e mar, Las Palmas, Bermudas, Cuba, Índia, Suez: é tão redondo e azul o planeta.
Com óculos de sol ou sem eles, mas sempre de e com uma bicicleta, José Poeira é o herói, campeão mundial, de Alguma Coisa Boa Há-de Acontecer-me. Leia a hagiografia que José Carlos Gomes por bem lhe escreveu, e deixe que alguma coisa boa lhe traga o «doce canto» da vitória.
Bem sei que o chão do nosso tempo já «coberto foi de neve fria». A quem ande mais esquecido, a investigadora Sharon Vilches oferece a Breve História da Gestapo, das mais brutais polícias do século XX, por que «do mal ficam as mágoas na lembrança».
«E do bem (se algum houve) as saudades» eis o que, na mesma colecção, A Minha Estante, nos faz querer ler História do Protestantismo, de Jean Baubérot, livro sério e sintético sobre essa tremenda mudança que fracturou o cristianismo, criando a liberdade individual de interpretação, liberdade que à autoridade contrapõe a consciência, mostrando que «todo o mundo é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades».
E a Rita Fonseca vem, em estado de plena Euforia, dizer-me que o mundo editorial «não se muda já como soía». Em Obsessão da Morte, a romancista (muito, muito dark) Avina St. Graves cria uma narrativa de inescapáveis fixações, tantas que uma personagem confessa: «A morte é única coisa que me mantém viva.» Entra agora nas livrarias, mas as pré-vendas já puseram, nas duas últimas semanas, o romance no top 10 da Wook. Pelo sim, pelo não, tenham à mão os vossos óculos de sol.
Manuel S. Fonseca, editor