Em pouco mais de cinco anos, Rui Teixeira Motta (1955) publicou quatro colectâneas de inéditos. Este seu novo livro, As Mãos, marca a solidez de um percurso que, interrompido nos anos 90, o autor de Refracção (2021) soube renovar e resgatar.
por
António Carlos Cortez
Maio de 2025
Em pouco mais de cinco anos, Rui Teixeira Motta (1955) publicou quatro colectâneas de inéditos. Este seu novo livro, As Mãos, marca a solidez de um percurso que, interrompido nos anos 90, o autor de Refracção (2021) soube renovar e resgatar. Poesia de observação e de fulgurações, jamais exasperada ou emocional, o que lemos nos seus poemas é, em simultâneo, certa aspiração a que o poema seja uma evanescência, sendo certo que o poema é também o trabalho concreto da linguagem. Poemas curtos, espelhando uma visão de mundo que atenta no que por detrás do banal se esconde, Rui Teixeira Motta persegue esse fito de Drummond de Andrade: «Não faças versos sobre acontecimentos.» O poema é, assim, o próprio acontecimento. As mãos, metonímia do toque, do facto, do amor, são também as mãos da escrita, do tempo que esculpe corpos, memórias, encontros e desencontros. Especulativa e irónica, percorre os poemas de As Mãos uma raríssima melancolia, certo espanto (um rosto, uma manhã, um poema lido, uma praia do passado), tudo numa economia de recursos ímpar na poesia portuguesa mais recente.
Próximo de Sophia pelo desejo de perfeição formal, mas próximo também de certa pureza e brevidade que lembram alguma poesia japonesa ou certo Eugénio de Andrade, a tensa voz contemplativa que aqui se dá a ler confirmam o poema como matter of fact. Realidade última do ser no mundo.
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António Carlos Cortez
Maio de 2025