Um livro pode ser uma lição simples e admirável

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Jean-François Billeter é um profundo conhecedor da cultura chinesa, o mais importante sinólogo suíço. Neste seu Porquê a Europa, Reflexões de Um Sinólogo, Billeter vai às raízes da cultura, da História política e militar, da filosofia chinesas. É um livro escrito com fluência e com tanta admirável simplicidade como fundamento e investigação. 

Se queremos compreender as notícias que, neste momento, enchem todos os jornais e todos os telejornais, se queremos compreender o significado da lei de segurança que Pequim impôs a Hong Kong, se queremos compreender a vaga de prisões, se queremos compreender a diplomacia dos lobos guerreiros, é forçoso ler este livro.

Um breve excerto:

Os ensinamentos de Confúcio que Yang Shangkun contrapõe aos valores cristãos, aos direitos do homem e ao nosso individualismo não são os de Confúcio, mas sim a ideologia que se formou sob os Han e que generalizou o princípio hierárquico e o respeito absoluto pela autoridade. Esse confucionismo, afirma, está há mais de 2000 anos na origem da grandeza e da força da China, isto é, do império chinês. Foi ele que constituiu a base da sua organização social e é ele que deve continuar a ser a base da sociedade chinesa no futuro.

Os dirigentes actuais já não usam esta linguagem, mas não rejeitaram o seu conteúdo, porque o regime reproduz hoje, sob formas alteradas, aquilo que é próprio da tradição política chinesa desde a fundação do Império: no topo, um poder indivisível, de iniciativa estratégica, que recorre em igual medida ao civil e ao militar, que não reconhece qualquer outro contrapoder e não tem, na sua essência, limite. As relações sociais de hoje já não são hierarquizadas como no Antigo Regime, mas o Partido reconstituiu a divisão da sociedade numa esfera dominante e numa esfera dominada. Por meio da propaganda e do controlo do pensamento, ele encerra as mentes num mundo fechado e autóctone. Os atavismos que as forças progressistas combateram fervorosamente entre 1919 e 1989 estão de volta.”

Sem demagogias, fundado num trabalho rigoroso de conhecimento, este é um livro que oferece ao leitor uma lição simples e admirável.

 

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