Numa associação espontânea e revolucionária (ah, pois) a prosa nostalgicamente marxista (sic) do pequeno Manuel S. Fonseca associa-se ao rabino talento pinta paredes do excelso ilustrador Nuno Saraiva, recriando a vertigem da noite de 24 e da manhã e tarde de 25 (Abril, está claro): neste livro estão – ilustradas, lustrosas! – as frases, os slogans, as pichagens, os delírios de ministros, militares, de soldados e freirinhas benza-as Deus.
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Festa. Este livro festeja os 50 anos do dia que derrubou uma ditadura de 48 anos. O 25 de Abril, catarse e delírio, foi uma das mais impressionantes algazarras de liberdade, loucura, e inocente destrambelhamento colectivo que o modesto povo português já viveu.
A liberdade chegou como uma inundação: proliferaram partidos políticos; levantaram-se do chão incendiários educadores do povo; agitaram-se estandartes; colaram-se cartazes; pichagens pintaram paredes; ruas, largos e avenidas entupiram-se com torrentes de gente em loucas manifs.
De tudo isso este livro quer ser a mais despretensiosa – e divertida – testemunha. Primeiro, num preâmbulo mansinho, nocturno, visitamos e descrevemos, hora a hora, os incidentes e o suspense da noite de 24 de Abril, da madrugada e do dia 25 em que os militares de Abril derrubaram o Estado do estado a que isto chegara.
Depois, redescobrimos as palavras de ordem, o alucinado desatino das palavras que varreu Portugal, evocando cartazes, os gritos das manifestações, as paredes e muros pintados. Mais de duas dezenas de ilustrações de Nuno Saraiva recriam, neste 25 de Abril, no princípio era o verbo, um Portugal de cabelos desvairadamente compridos, calças boca de sino, soutiens a serem queimados, um Portugal a pôr a ávida boca na orgia de novos costumes.
O 25 de Abril foi um dia polifónico em que da voz de cada português saiu uma palavra, fosse essa palavra exaltante, ridícula, hiperbólica, tímida, ou do mais sublime humor. Dessas palavras se construiu o Portugal que hoje somos. Dessas palavras é feito este livro.