Pede-me o editor da Guerra e Paz que, na minha qualidade de autor, vos fale deste O Pequeno Livro dos Grandes Insultos.
Escolho pensar no que gostava que acontecesse quando tivessem este livro na mão. A primeira coisa que espero é que se riam. E que se riam muito. O livro reúne os piores insultos, os piores palavrões da língua portuguesa, como nunca foram postos num livro. E a minha primeira preocupação foi que este livro nada tivesse de ofensivo. Ora, como sabemos, mais do que nada, mais do que tudo, o que nos salva é o humor. Este é um livro para nos rirmos com o que, se fosse no trânsito ou se fosse o mono do vizinho de cima a dizer-nos, nós iríamos logo para a guerra. Portanto, primeira promessa, este livro vai fazer-vos rir.
A minha segunda preocupação foi ser útil e procurar fazer um trabalho de recolha cuidado, enquadrado com fundamento e de forma despretensiosa. Não posso ser juiz em causa própria, mas procurei avaliações de especialistas da língua e o exame correu bem, quero agora a vossa opinião sobre um livro que reúne pela primeira vez os insultos e palavrões da língua portuguesa em situação. Portanto, segunda promessa, este livro vai ser-vos útil.
A minha terceira preocupação foi fazer um livro que o leitor não tivesse de ler em segredo e em zonas reservadas. Este é um livro que o leitor pode mostrar e vai querer partilhar com os seus amigos. É um livro para homens e mulheres. Tem palavrões – os piores – mas foi pensado para ser elegante, tanto no seu aspecto exterior, como no interior. Quer no texto, quer na mancha gráfica. Nesse sentido é um livro meu, mas é também um livro do Ilídio Vasco, o designer gráfico que comigo trabalha vai para 12 anos. Portanto, terceira promessa, este livro é bonito.
Com este livro vai saber porque insulta, quem insulta, como insulta e donde vem o insulto que larga quando larga um rutilante palavrão. Escuso de dizer que o livro lhe oferece algumas centenas de sinónimos para poder variar a sua «gama de produtos» disponíveis. Vai descobrir que «Dalila do meu Sansão» ou «alavanca de Arquimedes» têm sentidos inesperados e bem sugestivos. Portanto, quarta promessa, este livro vai mesmo alargar o seu horizonte vernacular.
Deixem-me dizer o que vão encontrar. Num primeiro capítulo, organizados por certas áreas do corpo humano que são as mais procuradas para insultar alguém, estão os maiores insultos que todos nós já usámos naquele momento de som e fúria em que vemos tudo em sangue. Num segundo capítulo, estão as expressões com palavrões que já entraram na língua e são hoje expressões idiomáticas, como por exemplo a expressão “bom, isso é em casa do c… mais velho”. Num terceiro capítulo estão lengalengas, cantilenas e outras amenidades populares, como a que esperamos ouvir quando alguém grita «Ó Abreu, abre o…» ou que, começando por «bonito, bonito, é …» não me atrevo a terminar aqui. Num quarto capítulo, reúnem-se as expressões eufemísticas, aquelas em que dizemos aquilo sem dizer aquilo, forma hábil de contornar o palavrão, como quando dizemos que o que era mesmo bom era agora «molhar o biscoito» ou «passar a linguiça na farinheira». Por fim, no último capítulo, descobrimos, através de expressões ultrajantes, que o palavrão é eterno e é de todos os lugares. Vai ver como foi e é usado, dos poetas romanos à China ou Finlândia dos nossos dias.
O livro chega às livrarias no dia 16 de Outubro, mas nesta pré-venda, juram-me o editor e o Américo Araújo, director comercial, que há condições únicas: com os Insultos a ediotra oferece um livro maravilhoso, O Bordel das Musas, com os poemas eróticos de Claude Le Petit, que os franceses queimaram na fogueira, e com ilustrações muito bonitas de João Cutileiro: o pior é que também levam com um autógrafo deste autor de tão má caligrafia. Não percam.