Cabinda, o livro do diálogo

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«Cabinda tem sido um palco constante de perseguições, prisões, torturas e assassínio por parte do regime angolano.» Esta contundente síntese da activista dos direitos humanos Maria Manuela Serrano, no prefácio que assina ao livro Cabinda, Um território em Disputa, bastaria para justificar este livro.

Mas este livro, organizado pelo jovem jornalista Sedrick de Carvalho, acrescenta um outro mérito a esse propósito nobre: Cabinda um território em Disputa é, na forma e no conteúdo, um livro de diálogo. Um diálogo sereno, o diálogo que interessa ao povo de Cabinda, aos angolanos e, sublinhe-se, também aos portugueses, a quem esta questão africana não pode deixar de nos fazer revisitar todo o processo de descolonização e o terrível cortejo de desastres humanos que dele também decorrem.

Neste livro, oito autores dão voz a Cabinda em oito ensaios, mostrando diferentes perspectivas sobre a questão e o estatuto do território. Esta é uma importante parte da história do enclave, contada por quem a viveu e a analisa. Três dos autores estiveram presos pela tomada de posição em defesa dos direitos humanos e foram, mais tarde, considerados prisioneiros de consciência pela Amnistia Internacional. Um vive há décadas no exílio. E se as autoridades angolanas dizem que não há guerra nem guerrilha em Cabinda, alguns autores falam em confrontos violentos e em notícias de assassínios e raptos, perseguição de activistas e religiosos, impedimento de realização de manifestações e imprensa limitada. 

Em Cabinda, um Território em Disputa aborda-se a formação do território sob perspectivas históricas e jurídicas, defende-se o direito e dever de resistência contra a ocupação, fala-se de Che Guevara como «pai espiritual » da intervenção cubana em Cabinda, analisa-se o tratamento dado por Portugal durante a presidência de Cavaco Silva, descreve-se a forma como Cabinda é referida na imprensa angolana e analisa-se, ainda, o significado político e jurídico do Tratado de Simulambuco. A obra é ricamente documentada, para que a memória dos que lutam pela paz no território não se apague.

Com este livro, a Guerra e Paz editores prossegue a publicação de livros em que Angola e as questões angolanas se constituem como uma das suas mais fortes linhas editoriais, do Quem Me Dera Ser Onda, de Manuel Rui, à poesia de José Luís Mendonça, da Ilha de Martim Vaz ao E se Angola tivesse proclamado a independência em 1959, do Angola Amordaçada de Domingos da Cruz ao Fim da Extrema Esquerda em Angola, passando pelo Franco-Atiradores, de Jonuel Gonçalves e pelo Ocaso dos Pirilampos, de Adriano Mixinge. 

Queremos continuar, mas só a existência de uma comunidade de leitores compradores nos permite manter este ritmo de publicação com total independência. A Guerra e Paz é uma editora independente que precisa de leitores. É essa única dependência que desejamos, a de depender dos nossos leitores.

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