Estávamos a precisar deste livro. Diabetes, Sem Açúcar, Com Afecto é um livro a duas vozes. Fala o médico – ou melhor a médica especialista, e fala o doente. A médica é a Dra. Sílvia Saraiva que se preocupa, antes de mais, com o choque psicológico que é a notícia da doença, a primeira vez que o paciente sabe que é diabético. O doente é o escritor José Jorge Letria, poeta e romancista, ensaista e cantor, prova acabada de que um diabético pode agarrar plenamente a vida, ou mesmo várias vidas como o nosso autor magnificamente faz.
Damos a palavra aos dois. Primeiro à Dra. Sílvia Saraiva:
“A diabetes tipo 1, geralmente, faz com que a criança ou o jovem fiquem num estado de fraqueza profunda, com acentuada perda de peso (apesar do aumento de apetite), sede exagerada e consequente aumento do volume de urina. Quase se pode dizer que estes sintomas aparecem de «um dia para o outro». São súbitos, agressivos e exigem um tratamento imediato porque, sem ele, podem conduzir a uma rápida evolução para um estado de coma e morte.
A grande diferença para a diabetes tipo 2 é que esta última resulta de uma evolução lenta, gerando sintomas que se instalam aos poucos, ao longo de anos, e que, por parecerem tão comuns, podem ser interpretados como uma consequência natural da vida: o estar mais cansado porque se está mais velho ou porque se tem uma vida agitada e
desgastante, o ter mais sede porque está mais calor. Mas é importante saber que tudo isto se traduz num enfraquecimento geral do organismo.
Como estamos muitas vezes cansados (pela nossa vida extremamente exigente) e a sociedade nos pede sempre um pouco mais, o cansaço torna‑se um sintoma muito difícil de interpretar, apesar de ser um dos primeiros sinais a ter em conta, a par de uma sede mais intensa e um aumento do volume urinário.”
E agora, a José Jorge Letria:
“Escrevendo sobre a minha condição de diabético, recuei no tempo da memória, reencontrei personagens e situações há muito esquecidas e admito mesmo ter delineado uma estratégia para melhor lidar com a doença. Lida‑se
muito melhor e com maior grau de eficácia com aquilo que se conhece. Hoje posso dizer que conheço
bem a minha diabetes, os seus truques e artimanhas, a sua imprevisibilidade tantas vezes desnorteante, e também passei a conhecer melhor o meu corpo e o seu complexo funcionamento.”
São 152 páginas de informação tão útil quanto científica e de reflexões que ajudam a comunidade dos que estão confrontados com a doença, mas também das famílias que os rodeiam a apoiam. Estávamos mesmo a precisar deste livro.
