Escravatura, Perguntas e Respostas é uma das mais recentes edições da Guerra e Paz, Da autoria do historiador João Pedro Marques, a obra inaugura uma nova colecção, OS LIVROS VERMELHOS, capa vermelha e faces do miolo pintadas também a vermelho, com miolo a preto e branco e vermelho. Queremos que a colecção seja de grande actualidade e igual frontalidade. O mérito deste Escravatura está na sua clareza, no seu rigor histórico e na linguagem muito acessível, o que as recensões e comentário críticos têm sublinhado elogiosamente.
Queremos abrir-lhe o apetite com este excerto da introdução:
“Um dos venenos do nosso tempo são as ideologias políticas mascaradas de ciência – ciência histórica, neste caso – e é de lamentar que seja a Unesco a fornecer o copo para esse veneno. A História não é um mero instrumento para atingir fins políticos, por mais louváveis que eles sejam. É, antes do mais, uma maneira de compreender a trama dos acontecimentos humanos, de desenvolver o sentido crítico nos que a escrevem ou a lêem e, acima de tudo, um caminho de procura da verdade.
É essa preocupação com a verdade, esse esforço de reposição da verdade, que orienta Escravatura: Perguntas e Respostas. O livro é, em boa medida, uma tentativa de contestar ideias erradas e de trazer até ao leitor alguns dos resultados da investigação histórica e, mais em particular, da que estuda a relação de Portugal com as questões do tráfico de escravos e da escravidão em contexto colonial. Não pretende ser uma história da escravatura, nem tal seria possível num livro de tão reduzida dimensão.
O objectivo, aqui, é apenas o de clarificar, de forma tão simples quanto possível, alguns tópicos e de responder de forma muito directa a algumas perguntas sobre a escravatura e sobre o envolvimento português nessa prática. O livro está, por isso, organizado em quatro capítulos subdivididos em pequenos subcapítulos, cada um deles com uma questão e o respectivo esclarecimento.”
E, já agora, leia ainda esta passagem que se refere ao papel dos portugueses na escravatura africana:
“É errado pensar que os africanos desconheciam a escravatura antes de terem tido contacto com os portugueses. Quando as caravelas chegaram à chamada «terra dos negros», a África já conhecia formas de escravidão próprias – como se verá no subcapítulo seguinte – e, em muitas partes do seu território, já se havia envolvido em redes de tráfico de escravos a grande distância. Com a domesticação do camelo, no século ii da nossa era, e a posterior difusão do nomadismo cameleiro no deserto do Sara, o interior da África negra passou a estar ao alcance do mundo exterior. Pelas rotas caravaneiras, começaram, então, a escoar-se várias riquezas africanas, entre as quais o ouro, o marfim e os escravos. Depois, com a formação do mundo islâmico, e sobretudo a partir do século viii, o tráfico de escravos ter-se-á intensificado devido à crescente procura de negros e negras para desempenharem funções de soldados, concubinas, eunucos, pescadores de pérolas, mineiros.
Em resultado dessa procura, os mercadores muçulmanos começaram a envolver a África subsariana numa grande rede mercantil que se estendia da Tanzânia ao Norte da Nigéria e daí ao Senegal, e que ia buscar escravos não apenas a essa extensa faixa de terra, mas mais para lá, à zona da floresta. Além disso, levaram igualmente a cabo um tráfico negreiro através do mar Vermelho e no Índico.”