Homenagem a um tradutor: Rui Santana Brito

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 Rui Santana Brito com João Bénard da Costa e com a actriz catalã Rosa Maria Sardá

Faz amanhã um ano que a Guerra e Paz perdeu um dos seus melhores tradutores, Rui Santana Brito. O mais antigo também, por ter assinado, logo no começo da vida da Guerra e Paz a magnífica e monumental tradução de História de Juliette ou as Prosperidades do Vício, do terrível e iníquo Marquês de Sade.

Formado na Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa, Rui Santana Brito foi vice-director da Cinemateca Portuguesa, ao lado do João Bénard da Costa, e foi o responsável durante muitos anos pelo Centro de Documentação que desenvolveu, dando-lhe dimensão e sofisticação.

Foi na Cinemateca que nos conhecemos e foi lá que forjámos uma amizade para a vida. Juntava-nos o amor pelos livros e pelos filmes.

Mesmo agora, nestes últimos dez anos das minhas aventuras editoriais, o Rui esteve sempre presente. Traduziu alguns dos melhores livros que publiquei, a começar, como já disse, pelas 900 páginas da História de Juliette ou as Prosperidades do Vício do abominável Marquês de Sade, para logo, resgatando-se da queda blasfema, me traduzir o críptico Rei Jesus, de Robert Graves. Traduziu Churchill, Os Meus Primeiros Anos, mas também Os Intelectuais, de Paul Johnson, O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde, A Ilha do Tesouro, de R.L. Stevenson,ou títulos contemporâneos, como As Pessoas Felizes Lêem e Bebem Café, de Agnès-Martin Lugand, e À Espera de Bojangles, de Olivier Bourdeaut.

Eu gostava tanto das suas traduções, que para poder pôr o meu nome ao lado do dele num livro, pedi ao Rui para traduzirmos juntos O Principezinho. É com orgulho que olho para a edição de capa negra que fizemos, a única, se bem sei, de capa negra e barra vermelha que está nas livrarias portuguesas.

Quando a fatídica doença o atacou, estava a traduzir O Vermelho e o Negro, de Stendhal. Já não conseguiu completá-lo. Com a ajuda de Helder Guégués, também meu tradutor e revisor, e que foi quem reviu a esmagadora maioria dos livros traduzidos pelo Rui, completei a tradução, que publiquei este mês. Fecho, com essa publicação e com esta homenagem, um ciclo. Devia-o ao meu tradutor, sublinhando junto dos milhares de leitores que esses livros tiveram, a qualidade do seu trabalho e o contributo que ele deu à cultura, tornando acessíveis tantas obras-primas a leitores de língua portuguesa.

Em aberto, porque essa não há ciclos em que se feche, fica a amizade sincera que nos tínhamos. Não me esqueço. 

                                                           

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