Os meus livros de Junho

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A chuva tamborila e ouve-se o pingue, pingue das gotas a cair lá fora: quem é que, assim, não quer fazer Amor entre o Feno? É verdade, o sexo é o que, quase sempre, D. H. Lawrence tem na mão, e esta curta narrativa é uma preciosidade de escrita, de tensão entre irmãos, de inocência e de satisfação emocional, o meu primeiro livro de Junho.

E chove, e chove, gotas grossas e trovoada galega, em A Borga, de Eduardo Blanco Amor, escritor maior do século XX: são 24 horas de álcool, sexo, transgressão caótica e descida aos Infernos de três homens, uma obra-prima pela primeira vez em português, com tradução notável de Pedro Ventura. Como vêem, Junho vai ser tórrido. Infernal, se calhar.

Só nos resgata dos Infernos quem já lá nos levou. É o que, depois da temporada que lá passou, faz Rimbaud, num dos mais belos livros de poemas de sempre, Iluminações, que outro poeta, João Moita, traduziu com raiva mística, e eu publico em edição bilingue, juntando texto de apresentação meu e fac-simile de alguns originais do anjo do mal que terá sido o seu autor.

Pode lamber-se o céu? Sim, e ir às nuvens com o amor e o saber que Jorge de Sena nos oferece em Literatura Portuguesa: das Cantigas de Amigo e de Amor às Vanguardas do Século XX a mais justa, a mais inteligente, a mais exaltante história já escrita da nossa literatura: são só 100 páginas. Por amor de Deus, façam deste livrinho leitura obrigatória nas escolas!

E, com a ajuda dos Lions de Portugal, vamos publicar o Prémio Nacional de Literatura dos Lions: este ano, o vencedor é o Lixo dos Outros, um romance de João Albano Fernandes centrado no hostil silêncio entre um pai que trabalha no lixo e uma filha que talvez tenha a mais antiga profissão do mundo.

São estes os cinco livros que chegam às livrarias a 14 de Junho. A 27 de Junho há quatro novos títulos pelos quais, se o mundo fosse justo, milhões de leitores se deviam esgadanhar à entrada das livrarias.

Para começar, um testemunho real, A Ruiva de Auschwitz: Uma História Verídica, narrado por Nechama Birnbaum, a neta de Rosie, a jovem judia ruiva, que é levada para o campo de morte pelos nazis. Rapam-lhe o cabelo, mas não lhe rapam a esperança e Rosie vai derrotar a morte: a imensa alegria que é derrotar o mal e a morte! A autora, a neta da sobrevivente, vem a Portugal.

Francisco aos Jovens: De Coração Abençoo os Vossos Sonhos é um livro que dá a palavra ao Papa Francisco. Num livro carregado de imagens, Francisco fala aos mais jovens: de trabalho, desemprego, mas também de redes sociais, de sexo, e mesmo dos abusos sexuais na Igreja. Uma edição com a Cofina, nos Livros CMtv.

E ouçam Isaiah Berlin: «A busca da perfeição parece-me ser uma receita para a carnificina, e não será melhor por ser exigida pelo mais sincero dos idealistas, pelo mais puro de coração.» Esta é uma das teses de A Busca do Ideal: A História das Ideias, um livro de pensamento maduro, argumentativo e demonstrativo. Um livro não tonitruante, a pedir reflexão. É da colecção Os Livros Não se Rendem e a Fundação Manuel António da Mota e a Mota Gestão e Participações oferecem 244 exemplares às bibliotecas públicas.

Garantindo que esta newsletter não foi escrita pelo ChatGPT, fecho Junho com um livro que me deixa orgulhoso: Ciência, Tecnologia e Sociedade, da autoria do professor Arlindo Oliveira, o nosso melhor especialista nas áreas de algoritmos, inteligência artificial, arquitectura de computadores e biologia computacional. São esses, da energia e ambiente ao metaverso e inteligência artificial, os tópicos que este livro, urgente e actualíssimo, aborda. Ter a parceria do INESC-Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores e do IST – Instituto Superior Técnico só atesta a alta qualidade da obra. Pela saúde da sua literacia tecnológica e digital, leia este livro.

São nove livros, nove brinquedos de Junho. Doces como farófias, picantes como os rissóis de camarão da minha mãe, massajados como um divino bife de Kobe.

Ah, desculpem, desculpem o meloso derrame alimentício: afinal, são só livros: para ler e amar entre o feno. Em papel, levam-nos ao céu e ao inferno, e sem eles nunca teríamos chegado ao metaverso. Boa leitura.

Manuel S. Fonseca, editor

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