Morreu DDD, fotógrafo de Picasso

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Morreu David Douglas Duncan. Era um fotógrafo célebre. A começar pelas fotografias íntimas de Picasso, a quem se juntou por indicação de outro fotógrafo, Robert Capa, igualmente mítico, e a acabar nas fotos do Vietnam. A Guerra e Paz publicou este livro de DDD. Se bem me lembro foi ele quem primeiro me ligou – e perde-se no tempo e em várias intrigas a forma como chegou à fala comigo. Contou-me logo que, no dia em que conheceu Picasso, estava um português a sair de casa do pintor, na Côte d’Azur. Acabara de comprar um quadro a Picasso e é provável que tenha até comprado mais. DDD garantia-me que os quadros deviam estar no Caramulo e que essa história do colecccionador português de Picasso, era mais uma razão para eu publicar em Portugal o livro que publiquei: Picasso & Lump: a história do cão que comeu um Picasso.

Os leitores portugueses deste livro, e os admiradores das belas fotografias de Picasso, do cão e das telas que fazem magnífica esta obra, têm ainda mais uma razão para acarinhar Picasso & Lump como um tesouro: é que David Douglas Duncan amava Portugal. Estava ao telefone com ele – e foi ao telefone que sempre falámos, nunca nos encontrando, infelizmente – quando ele me roubou a minha frase favorita, quando se entra em capítulo gastronómico. Já a tinha engatilhado e vem do outro lado do telefone, da boca dele, a antecipação: “Portugal tem o melhor peixe do mundo.” E louvou a seguir Cascais, a costa, o mar, o sol, uma admiração sem sombras pelas pessoas e pelo acolhimento que sempre tivera. 

Ficámos a dever-nos o almoço ou jantar que nunca tivemos – pregado ou linguado, em Cascais, olhos postos no mar. Fica este livro, de que já só temos uma centena de exemplares, e cuja publicação em Portugal foi para ele mais um prazer do que um negócio.

Falta falar de Lump, o cão que Picasso “roubou” a Duncan. Copio o que escrevemos no nosso site:

ESTA HISTÓRIA JUBILOSA ACERCA DO ARTISTA E DO SEU CÃO, AQUI CONTADA PELA PRIMEIRA VEZ, PROPORCIONA UMA IMAGEM SENSÍVEL E INVULGAR DE PICASSO.

Numa manhã de Primavera de 1957, David Douglas Duncan, o veterano fotojornalista, fez uma visita a Pablo Picasso, seu amigo e frequente objecto fotográfico, na casa do artista, perto de Cannes.

Como co-piloto ao lado de Duncan, no seu Mercedes Gullwing 300 SL, encontrava-se o dachshund de estimação do fotógrafo: Lump. Fotógrafo e cachorro eram companheiros próximos, mas o estilo de vida nómada de Duncan e o seu outro cão – um gigante e ciumento galgo afegão que havia tiranizado Lump – tornavam difícil a vida deste em Roma.

Quando, naquele dia mágico, chegaram a Villa La Californie, a propriedade de Picasso na Côte d’Azur, Lump considerou que tinha encontrado o paraíso na terra e que iria mudar-se para lá, juntando-se a Picasso, quer fosse bem-vindo quer não.

Em alemão, país onde nasceu, Lump significa “pequeno malandro”. Lump foi imortalizado num retrato de Picasso pintado num prato no mesmo dia em que se conheceram – mas isso seria apenas o início. Na explosão que deu origem às quarenta e cinco pinturas inspiradas na obra-prima de Velásquez, Las Meninas, Picasso substituiu o impassível cão de caça que está em primeiro plano por representações jocosas de Lump.

Hoje em dia, e como presentes do artista para aquela que foi a sua cidade da juventude, todas estas telas resplandecentes são a atracção principal em exibição no Museu Picasso de Barcelona.

Destes quadros, cerca de catorze são aqui reproduzidos a cores, justapostos às dramáticas e íntimas fotografias a preto e branco de Picasso e Lump, tiradas por David Douglas Duncan, encerrando o ciclo da odisseia de um solitário dachshund, que encontrou o seu caminho num Mercedes 300 SL, para se transformar no peludo e ultra-esticado animal de estimação icónico da arte do século XX.

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