Não gosto que proíbam livros

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Gosto de livros proibidos. Não gosto é que se proíbam livros. A palavra pode parecer a mesma, mas há uma nuance que muda tudo. Gosto de chamar livros proibidos a livros transgressores, a livros que na sexualidade, na política ou na moral forcem os limites da razoabilidade ou do senso comum. E gosto que venham com essa aura e que um velho professor primário nos venha dizer, com a sua voz doce e pedagógica, “esse livro é perigoso”, sabendo que assim o leremos mais depressa e com mais vontade. O que não gosto é que os poderes públicos – em geral os ditatoriais, mas muitas vezes também os democráticos – tombem na tentação de proibir livros.

Foi esse o espírito que presidiu à minha decisão de publicar na Guerra e Paz editores o Mein Kamp, que o espírito e a mão tão banais como maléficos de Adolf Hitler escreveram. É um livro maldito e está na génese de uma das maiores tragédias da História da humanidade e da História do século XX. Era um livro proibido, o que lhe criou uma aura de fascínio que o livro não tem méritos estéticos, literários ou filosófico para sustentar.

Publiquei-o com uma contextualização histórica, que eu mesmo escrevi e na qual faço uma síntese do melhor e mais importante que hoje especialistas e historiadores estabeleceram sobre a ascensão ao poder e o crime hediondo que foi o nazismo.

Num gesto que alguns acharam provocatório juntei a esse livro a publicação de dois outros, o Manifesto Comunista, de Marx e Engels e o Pequeno Livro Vermelho do camarada Mao. Ambos estão na origem, involuntariamente no caso da obra de Marx e Engels, mais voluntária e calculadamente no caso da obra de Mao Tsé Tung, ambos estão, dizia eu, na origem de duas tragédias humanas, do ciclo de tortura, campos de concentração, trabalhos forçados e massacre ou genocídio a que o comunismo soviético e o maoismo na China conduziram esses povos.

Podemos chamar-lhes livros malditos – proibido é proibi-los. O essencial é não os esconder, o essencial é lê-los e, a partir deles, perceber como a ideia de revolução tem, afinal, muito menos charme do que aquele que nas conversas de café, metro ou redes sociais se lhe atribui, e de como a utopia é um tapete sob o qual se esconde a mesma monstruosidade que, no Apocalypse Now, de Francis Coppola, fazia a personagem de Marlon Brando, esse famigerado Kurtz, dizer: “O horror, o horror!”

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