O erotismo segundo a Pontifícia Universidade de São Tomás de Aquino

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O professor Victor Correia é um autor sui generis da Guerra e Paz. Anima-o um amor desinteressado pela literatura a que é impossível um editor resistir. Depois de reunir pequenos e pequeníssimos contos, mais raros e pouco lidos, de autores portugueses no livro Pequenas Histórias dos Grandes Clássicos da Literatura Portuguesa, um livro que merecia ter tido outra recepção crítica e maior adesão dos leitores (isto sou eu a chorar-me, carregadinho de razão), Victor Correia entregou à Guerra e Paz um bestseller, um verdadeiro campeão de vendas e de popularidade.

Estou a falar dos Poemas Eróticos dos Cancioneiros Medievais Galego-Portugueses. A fortuna deste livro começou, logo, no programa Governo Sombra, quando João Miguel Tavares o propôs como livro da semana e cada um dos outros intervenientes, Pedro Mexia, Ricardo Araújo Pereira, Carlos Vaz Marques leu versos ardentes de um dos poemas eróticos. E a verdade é que a fortuna deste livro começa na escolha e na abordagem de Victor Correia. Ele escolheu poemas de autores galegos e portugueses (que nem saberiam se eram galegos ou portugueses) escritos na língua que também não se sabia se era só galega ou se já era também portuguesa, isto para seguirmos o que o mestre Fernando Venâncio nos ensina. Victor Correia frequentou a Pontifícia Universidade de São Tomás de Aquino, em Roma, e logo, lendo este livro, ficamos a pensar nas belas coisas que ali se ensinam, mas não ficou preso a fórmulas canónicas e estritas: é que seleccionou os poemas com critérios académicos, mas depois fez o abençoado sacrilégio de os traduzir para o português contemporâneo, pondo-os ao alcance do leitor comum. Ou seja, deu-lhes vida. O mesmo que, recentemente, o escritor Andrés Trapiello fez em Espanha, “traduzindo” para espanhol contemporâneo o Don Quixote, pondo-o assim ao alcance dos espanhóis que, ao contrário dos portugueses, franceses, ingleses, não podiam ler (e não liam!) o livro no idioma contemporâneo, desistindo muitas vezes perante a barreira do espanhol do século XVII.

Foi o que fez Victor Correia. Fez bem, fez serviço público, como podem ler no excerto que oferecemos. Estes poemas eróticos, a roçar por vezes o escatológico, tratando de casamentos, adultérios, poligamia, incesto, e outras heterodoxias sexuais, são de uma franqueza, de uma candura, diria eu, cristalina, mas não sem ironia e sem um pendor lúdico que nos solidariza com esses humanos que viveram há oito ou nove séculos antes de nós. Eis aqui a nudez que nos une.

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