O livro cómico mais sério do ano

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Algumas pessoas de direita gostam de fingir que existem contradições entre os princípios do Islão e o feminismo de quarta vaga. Mas, se eles realmente passassem algum tempo no Paquistão ou na Arábia Saudita ou em qualquer outro dos estados islâmicos, perceberiam que as atitudes em relação às mulheres são extremamente progressistas. Para o demonstrar, mais tardar este ano, penso organizar uma Marcha das Galdérias, pelo centro de Carachi.
Titania McGrath

 

Woke, Um Guia para a Justiça Social é um livro delirante: lê-se com espanto e é impossível não nos fazer soltar uma gargalhada. Escreveu-o Titania McGrath, que a si mesma se define como «poetisa interseccional radical, comprometida com o feminismo, a justiça social e o protesto pacífico armado». Titania assume ser um «ícone millenial na vanguarda do activismo online». Sim, ela detecta o preconceito e o privilégio como um desembestado cão de caça da moralidade e morde sem reservas as canelas da injustiça, das afrontas de género, das humilhações raciais.

Titania McGrath não existe (ou existe e já lá vamos!) e este livro é uma prodigiosa sátira criada por Andrew Doyle, professor, doutorado em poesia renascentista. Doyle escreve sobre temas políticos e, em particular, liberdade de expressão, na revista online spiked! e faz comédia.

A verdade é que Titania McGrath existe. Existem hoje, no nosso mundo, milhares de Titanias, mulheres e homens. E a verdade é que esses e essas Titanias engrossam uma vaga inquisitorial cada vez mais perigosa e impositiva, policiando linguagem e comportamentos, demolindo o passado e infernizando o presente, vergastando com culpas quem não se submeta ao seu pensamento único.

Agarrando em causas razoáveis e justas, com o woke, o «despertar cultural”, os e as Titanias promovem uma «cultura hiperinclusiva» demencial. Manicomial, chamou-lhe o professor João Brás, tradutor da obra.

Sátira brilhante, este livro é profundamente sério e urgente: mostra o absurdo de um movimento que está a corromper causas nobres, parodiando-as de forma absurda, do que os seus militantes não se dão já conta, tomados pelo fanatismo dos iniciados e pelo fogo da purificação com que querem fazer arder livros, filmes, pessoas, enfim, o mundo.

Fazendo-nos rir, recuperando a tradição satírica e polémica de Jonathan Swift, Andrew Doyle escreve um texto para o seu tempo e para a posteridade: este é o retrato por absurdo de um movimento anti-civilizacional fundado em radicalismos excêntricos e imposturas identitárias.

Garantimos: é o livro cómico mais sério do ano.

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