«O recreio dos fâmulos»: O novo livro de Jorge Melícias

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No conjunto da obra de Jorge Melícias, o recreio dos fâmulos ocupa, simultaneamente, um lugar à parte e de profunda contiguidade. Neste poemário encontramos o mesmo universo ontológico e axiológico presente em toda a obra do autor, mas transposto agora para formas de pendor clássico. A mesma perplexidade, a mesma tensão, a mesma húbris, a mesma tentativa de desdizer, a cada passo, o anátema que Saint-John Perse lançou sobre todos nós: o de que nunca teremos os dentes suficientemente bem lavados do pior do romantismo. A obra estará disponível, a partir do próximo dia 16 de Novembro, na rede livreira nacional, numa edição da Guerra e Paz.

 

Depois do livro de poesia a oratória dos mansos (2020, Porto Editora), o poeta Jorge Melícias publica agora o recreio dos fâmulos, obra que reúne as composições de pendor classicista do poeta, entre as quais testemunhamos veementes diálogos existencialistas com figuras da Antiguidade Clássica. O que mais surpreende na leitura de o recreio dos fâmulos é o facto de tão bem conjugar reflexão lúcida com uma beleza pensada, madura, servida por um léxico ao mesmo tempo esmerado e natural. Sem perda de pulsão lírica o leitor encontra nestes poemas uma mundividência própria.

 

 

Quem terá a haver da culpa a culpa havida?

à morte de Pericles Yiannopoulos

 

 

Quem terá a haver da culpa a culpa havida?

Quem se elevará acima do ranço da acédia

para dar sentido ao sentido último da tragédia?

 

E depois, quem conduzirá a morte a conduzida?

Quem impedirá que ela seja enfim concorde

com o escopo que melhor a acomode?

 

E a vida, esse aforro tão pobre,

quem subtrairá ao freio que o seu aferro morde

os dentes que o destino com desdém sacode?

 

Quem lhe fará ver que ela nada pode?

Que nas suas entranhas uma raça mais nobre

se levantou e caiu mil vezes para que ela agora soçobre.

 

 

A obra apresenta ainda uma série de inéditos do autor sob o título «taxionomia da esperança» e recupera o surpreendente poemário eu morrerei deste século às mãos de quem?, que, segundo o escritor Valter Hugo Mãe, apresenta um autor «descolado do poeta que foi», pois «sem se negar, dessacraliza o verso, assumindo-o enquanto performático».

 

Uma edição Guerra e Paz, o recreio dos fâmulos estará disponível, a partir do próximo dia 16 de Novembro, na rede livreira nacional e no site da editora.

 

Este é o 12.º livro do poeta Jorge Melícias. Com um percurso consolidado na poesia, o autor foi já traduzido para espanhol, inglês, finlandês, servo-croata, letão e lituano, e a sua pena está representada em algumas das mais importantes antologias de poesia contemporânea nacionais, como Poemas Portugueses – Antologia da Poesia Portuguesa do Séc. XIII ao Séc. XXI (2010, Porto Editora); e internacionais, como PhotomatonNueva Lírica Portuguesa (2012, edição com o apoio do Instituto Camões e da Direcção-Geral do Livro e das Bibliotecas, distribuída no Uruguai, na Argentina e em Espanha) e Aquí, en esta Babilonia (2018, Amargord Ediciones).

o recreio dos fâmulos

Jorge Melícias

Ficção / Poesia

56 páginas · 16,5×20 · 11,00€

Nas livrarias a 16 de Novembro

Guerra e Paz, Editores

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