Onze anos de Guerra, onze anos de Paz

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Esta é a estante Guerra e Paz

Agora, a fecharmos 2017, e a cinco meses de comemorar os 12 anos, e até porque não tínhamos ainda este novo site e este blog, lembro o que nos ia na alma, na Guerra e Paz quando a 10 de Abril deste ano soprámos as onze velas do nosso bolo de aniversário. Lembro e actualizo.

Falhámos. Acertámos. Perdemos. Vencemos.

Há 11 anos, a 10 de Abril de 2006, nascia a Guerra e Paz editores. Com Sena e Sophia, com Agustina, Eça e Camilo. A história da Guerra e Paz editores é igual à história dos seres humanos que a fizeram e fazem. Cheia de muitas alegrias (ah, que bom!) e de algumas decepções (olha, já nos lixámos). Mais alegrias do que decepções, Deus seja louvado. Com o orgulho dos enormes livros-álbum de Agustina e Eduardo Prado Coelho e a humildade de colecções de saber e educação que não resistiram a mais de cinco títulos. Com a inovação dos livros com capa de madeira dedicados a Fernando Pessoa e a normalidade dos livros no tradicional formato 15×23, de ficção e não-ficção. Já tivemos o livro mais vendido do ano, Maddie: A Verdade da Mentira, mas também nos caiu em cima, mandada por Deus ou pelo Diabo, a insolvência de um distribuidor, terramoto a que, com uma angústia de Job, sobrevivemos.

Já fizemos 11 anos e isso foi o que foi.

Hoje, somos os Clássicos Guerra e Paz, 26 títulos indispensáveis publicados em dois anoa, de Eça a D. H. Lawrence, de Luís de Camões a Flaubert. Três novos títulos comemoraram o nosso aniversário: El-Rei Junot, de Raul Brandão, o mais insólito romance português, As Aventuras de Tom Sawyer, de Mark Twain, aventureiro, viajante, humorista e criador do romance americano, e, por fim, uma monumental edição de Moby-Dick, o romance (será um romance?) de Herman Melville, numa admirável (desculpem a adjectivação, mas isto não vai lá com paninhos quentes) tradução de Maria João Madeira, que até nos baleeiros dos Açores se meteu para perceber o que estava a traduzir. E, entretanto, de Abril a Novembro, mais oito títulos vieram enriquecer a colecção, As Viagens na Minha Terra, de Almeida Garrett e A Morgadinha dos Canaviais, de Júlio Dinis, ombreando com As Aventuras de Huckleberry Finn, de Mark Twain, Orgulho e Preconceito, de Jane Austen, Coração das Trevas, de Joseph Conrad, As Viagens de Gulliver, de Jonathan Swift e O Que Fazer, de Nikolai Tchernichevski.

Foi o que foi, somos o que somos. Somos os Livros Amarelos, essa estranha colecção, já com sete volumes, que reúne num só livro dois textos de autores diferentes e se arrisca a justificar as razões da escolha, da aproximação ou da oposição, do amor ou do ódio que os junta. O sexto volume junta dois Apocalipses, o de João de Patmos, que talvez seja São João, e o de D. H. Lawrence, que não era santo coisa nenhuma, que é o que diz Helder Guégués, o autor do texto justificativo. O sétimo associa a Saudação de Walt Whitman, do engenheiro Álvaro de Campos, ao Canto de Mim Mesmo (brilhante tradução de João Moita), do panteísta Walt Whitman, com apresentação serena de Jerónimo Pizarro.

Também somos, pequenissimamente, se é que o revisor me vai deixar passar este ridículo advérbio de modo, editores de poesia. Não vamos invocar Camões e Pessoa, ou Claude Le Petit ou Aretino que publicámos, mas sim a colecção contemporânea, que tem escrito à porta «reserva-se o direito de admissão», porta que só ainda se abriu a Eugénia de Vasconcellos e, agora, ao romeno Dinu Flamand, abençoado por António Lobo Antunes. Sombras e Falésias, o livro dele, tem esse «segredo da eternidade», a cuja religião logo nos convertemos.

Uma coisa liga o «foi o que foi» ao «somos o que somos»: o gosto do luxo. Talvez por o editor ter nascido pobre e aldeão, há nele o gosto do brilho, das capas cartonadas, das lombadas em pano, dos títulos em prata e ouro. Fraqueza que o seu designer gráfico, Ilídio J.B. Vasco, explora desalmadamente. Saiu, no nosso aniversário, capa dura, lombada em pano azul, título em prata, uma edição especial do Ensaio sobre a Cegueira, de José Saramago, com prefácio inédito de Vasco Graça Moura, como inéditas são as 10 ilustrações que o pintor Rogério Ribeiro fez para o seu amigo Saramago e que agora esplendem (sim, esplendem mesmo!) no miolo do livro. E agora, para o Natal, já sabem, tantos têm sido os clamores, este O Físico Prodigioso, de Jorge de Sena, com pintura de Mariana Viana.

 

É juntando o «foi o que foi» ao «somos o que somos», que hoje demos um passo para amanhã. Porque o futuro já está à porta, a Guerra e Paz entrámos no livro juvenil. Tínhamos tocado e fugido. Agora, é de vez. Uma colecção, Os Livros Estão Loucos, vai dar a ler numa hora o que antes se lia num dia: romances clássicos adaptados para leitores dos 9 aos 14 anos. Os primeiros são Robinson Crusoé, Romeu e Julieta e Alice no País das Maravilhas, Os Três Mosqueteiros. Reescrevemos, como se João de Barros tivesse voltado à vida, estes livros  de Defoe, Shakespeare e Carroll, e demos-lhe uma volta gráfica louca. Para os pais terem vontade de os roubar aos filhos. E há mais: apareceu-nos um herói, o Santiago. O Santiago tem uma irmã mais velha perfeita que lhe dá cabo do juízo. O Santiago, que não é nenhum banana, vingou-se: escreveu já dois Caderno de Memórias de Difícil Acesso.  E proibiu toda a gente de o ler. Os pais do Santiago são a Raquel Palermo e o João Lacerda Matos. Temos a certeza de que vamos ter de falar muito deles.

Foi o que foi, somos o que somos e é isto que queremos sempre ser: Guerra e Paz editores, uma casa de edição generalista, que acolhe todas as obras, das mais sofisticadas e elitistas às mais simples e populares. Gostamos do toque de mão do papel, de um inusitado ou mesmo escandaloso grafismo, de uma cor que rompe a página, de pintar à mão as faces de um miolo. Gostamos que dos nossos livros saiam mundos e monstros, punhais e beijos. Gostamos de virar a página.

Manuel S. Fonseca

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