Os Livros Amarelos

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Vamos abrir um buraco no cadáver de Fernando Pessoa e vamos abrir um buraco no cadáver de Miguel de Unamuno. Para quê abrir buracos em cadáveres, perguntarão os leitores? Para lhes insuflar vida, respondo eu.

Tomemos nos braços o cadáver de Pessoa, o seu «Banqueiro Anarquista», por exemplo. O que acontecerá se, por esse buraco, lhe insuflarmos o sopro da boca de Oscar Wilde chamado «A Alma do Homem sob a Égide do Socialismo»? Arranquemos ao túmulo, piedosamente, o cadáver do espanhol Miguel de Unamuno pegando-lhe pelo buraco que dá pelo nome de «Portugal, um povo suicida» e disparemos lá para dentro o tiro que espatifou os miolos do português Manuel Laranjeira e a que ele chamou «Pessimismo Nacional». Há mais vida num tiro suicida do que numa longa existência canalha!

De que morte e de que vida é que estamos a falar? Estamos a falar de textos que o respeito atirou para um cemitério chamado literatura. A melhor forma de matar um texto, a melhor forma de matar a criação é catalogá-la e engavetá-la.

Matemos a morte, regressemos à vida! Para dar vida a contos, a romances, a poemas e a ensaios é necessário abrir-lhes um buraco por onde entrem outros textos. A melhor forma é rasga-los à discussão. A melhor forma é pintá-los a uma cor inesperada e insólita.

A Guerra e Paz, há um ano e meio, começou uma viagem de devassa ao cemitério que é o património literário da humanidade. É mentira, os textos não estão mortos. Às nossas escondidas, nos escusos vãos das bibliotecas, os textos literários fazem uns com os outros coisas inconfessáveis. Era preciso caçar-lhes essas relações clandestinas. A Guerra e Paz editores criou o paparazzo da história da literatura e do pensamento. Chama-se Livros Amarelos e é uma nova colecção. A colecção que revela as relações comprometedoras de textos célebres.

Célebres, célebres, muito bons, muito bons, dizemos todos, mas os textos ficam metidos a um canto, e isso é exactamente o que esta colecção quer veementemente rejeitar, contrariar e desmentir. Livros Amarelos é uma colecção de textos que se erguem de um salto, afectivamente activos.

Esta é uma colecção que, ao contrário de muitos planetas e de tantas estrelas, se pode ver à vista desarmada. São livros de 15 por 21 centímetros e são amarelos. Completamente amarelos e pintados à mão nas três faces do miolo. Custa um dinheirão ao editor? Custa, mas é bonito que se farta. E não são só livros bonitos. O Ilídio Vasco, nosso designer, rasgou-lhes a beleza, com um corte elíptico e alongado que deixa ver uma faísca de vermelho ou verde ou azul, conforme a cor que as guardas do livro, debaixo da capa, venham a ter.

São os Livros Amarelos, amarelos por serem voyeurs, amarelos em vénia à Yellow Book, a revista que, na Londres do século XIX, foi o primeiro sopro de vida desse modernismo que ainda hoje, no século XXI, se nos cola à pele, como grafismo de Ilídio Vasco, autor do design, grita nestes livros.

Entre os dois textos de cada livro, há um texto intrometido e atrevido. Escreve-o um autor, crítico ou académico contemporâneo, fazendo as biografias dos autores já mortos e dando-nos as razões pelas quais estes textos estão juntos e se relacionam. Jeronimo Pizarro, Ricardo Vasconcelos, Helder Guégués e Manuel S. Fonseca (eu mesmo) já se atreveram.

De Junho de 2016, data em que nasceram os Livros Amarelos, a Guerra e Paz já publicou oito títulos, por onde passaram, Fernando Pessoa e Walt Whitman, James Joyce e Jorge de Sena, Melville, Mark Twain, Kipling o Cãnticos dos Cântico e D. H. Lawrence. Passou por aqui erotismo e apocalipse.

Saídos do cemitério e regressados à vida, estes Livros Amarelos precisam de leitores que os amem e protejam: só assim se sentirão bem vindos ao século XXI. Sem leitores, os autores e os editores são inócuos. E o desafio da Guerra e Paz não é só para que leia estes Livros Amarelos – e são tão bonitos. Deixe-nos, aqui, neste post, na nosso facebook, sugestões de combinatórias que gostaria de ver num Livro Amarelo. Se o fizermos, será o seu Livro Amarelo.

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