Os meus livros de Agosto

|
Categoria: Sem categoria
Partilhar:


Quem não iria, agora mesmo, na alucinação deste tórrido Verão, para uma ilha deserta? E o que ou quem levaria eu para esta minha ilha de Agosto?


Eça, se fosse Eça, levaria duas louras, as duas louras que delicadamente a Guerra e Paz juntou na edição conjunta de Singularidades de uma Rapariga Loura e umas certas Seis Cartas de Fradique Mendes. Esta é, se todo o livro é uma ilha, a antiga ilha a que este editor volta com gosto. Foi um dos nossos livros inaugurais, há 16 anos, e regressa com tudo explicado pelo tão bonito posfácio que, então, Maria Filomena Mónica nos ofereceu. Ah, uma das louras rouba.

Já disse que também há prémios na ilha? Periferia, de Catarina Costa, venceu o Prémio Nacional de Literatura Lions de Portugal. Leva-nos para uma ilha distópica. Ou será um continente? Estão a conduzir os Pacientes (quem são?) para fora da cidade. Para uma periferia inlocalizável e indefinida. Com uma elegância irrepreensível, Catarina Costa oferece uma bela personagem feminina à literatura portuguesa. É mulher, foge a confinamentos e a rastreios, deambula, invencível, dir-se-ia, pela cidade. Mas pode alguém esconder-se numa ilha?

Como um náufrago, desagua agora na ilha da literatura portuguesa, Ricardo Ferreira de Almeida. É um náufrago nobre, na mão uma escrita pungente, cómica, cínica e honesta. Foi a Menção Honrosa do Prémio Literário UCCLA-CM Lisboa. Bastou-lhe dar a conhecer ao júri uma ilha: é um prédio de Alcântara com a mais exaltante galeria de personagens que as últimas décadas nos deram. Três Dias em Fevereiro é o romance: cáustico, terno, divertido. E neva nesta ilha que, por acaso é Lisboa.

Prémio Literário UCCLA-CM Lisboa ganhou-o um novo poeta, o brasileiro Alexandre Assine. Escreveu caligrafia, contidíssima e poética ilha que vai do soneto ao haiku: uma ilha de silêncio, escassez e meditação.

E eis uma ilha que viajou no tempo, uma ilha que nunca tinha chegado a Portugal. Chama-se Direita e Esquerda, o romance em que o austríaco Joseph Roth faz de Berlim uma ilha, adivinhando, pela grossa lente de um império bancário, a ascensão do nazismo. Uma ilha política? Não, uma ilha de Caim e Abel, terrível rivalidade entre dois irmãos, em que a literatura faz brilhar o trágico e o ridículo da condição humana.

Estas são as ilhas de Agosto onde a Guerra e Paz vai a banhos. Ilhas de pura imaginação, povoadas por personagens escondidas, ingénuas, sórdidas, heróicas. Uma ilha de humanidade e literatura. Quase toda portuguesa.

.

.

Manuel S. Fonseca, editor
 .

.

.

.

.

Artigos mais recentes do Blog:

Seleccione um ponto de entrega