Os meus livros de janeiro

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É tão bom começar de novo e navegar o desconhecido. O que este balbuciante 2023 nos pede é que, livros da Guerra e Paz na mão, sejamos meninos. Para nos ajudar a redescobrir a inocência com amorosa nostalgia, publico Vida Mortal e Imortal da Rapariga de Milão. Escreveu-o Domenico Starnone, um dos melhores escritores italianos actuais; há até quem diga que «ela», Elena Ferrante, é ele! Vida Mortal e Imortal é o livro de um menino que se apaixona: e quem não se apaixonaria a ver na janela do prédio em frente uma menina, bailarina periclitante, à beira do abismo, a dançar em pontas?

De paixões e navegações fala-nos outro romance, Meu Portugal Brasileiro, de José Jorge Letria: com ele navegamos as paixões tropicais de um português no Brasil de D. João VI, esse rei que adorava frango assado. Do mar vasto de Letria, navego ao lago americano do thriller de Riley Sager. Em A Casa do Outro Lado do Lago há uma casa de vidro. Parece que se vê tudo lá para dentro, mas a casa de vidro esconde mistério, talvez um crime, que nem o nosso mais vão voyeurismo pode imaginar.

São os meus três romances de Janeiro, a que junto a poesia do açoriano Ivo Machado. Miseriae é um livro de «linhas que se riscam e seapagam, antes que anoiteça», como explica no prefácio o escritor Mário Cláudio.

Quem pode começar outro ano sem ter um almanaque ao lado? O nosso novíssimo Almanaque de Portugal tem calendários, feriados, feiras, remédios, meteorologia, jardinagem e santos. Uma bênção para quem quer navegar seguro.

As navegações inspiram os nossos ensaios, a começar pelo Atlas Histórico do Mediterrâneo – Da Antiguidade aos Nossos Dias, de Florian Louis. Desse Mediterrâneo de migração, de transumância, veio, em Maio de 711, Tariq ibn Ziyad para invadir a Península Ibérica: começa aí a digressão de Fath al-Andalus – Os Muçulmanos na Península Ibérica, ensaio essencial para a compreensão da nossa história, assinado pelo historiador militar Marco Santos.

E as navegações, essa vontade insaciável de procurar o outro, de ir mais longe, de afrontar Adamastores, é o que anima o sempre frontal historiador João Pedro Marques, em Descobrimentos e Outros Temas Politicamente Incorrectos. Sim, é de polémica garantida, haja Deus.

Outro oceano é o genoma humano. Em O Fim da Genética – Concebendo o ADN da Humanidade, o geneticista David Goldstein anuncia-nos avanços perturbantes: há um novo tipo de genética que se oferece aos futuros pais. Até onde é legítima a intervenção humana?

Com Isaiah Berlin esta viagem da minha Guerra e Paz chega a porto seguríssimo: a Os Livros Não se Rendem, parceria com a Fundação Manuel António da Mota e a Mota Gestão e Participações. Lembram-se de O Ouriço e a Raposa? Com o mesmo encanto e clareza argumentativa, Esperança e Medo – Dois Conceitos de Liberdade é um livro luminoso, que faz perguntas: «Porque é que eu devo obedecer a outrem?» «Porque é que não hei-de viver como quero?» «Tenho de obedecer?» «Se eu desobedecer, posso ser coagido?». E oferece-nos tudo o que é preciso para cada um de nós dar a resposta.

São estes os meus dez livros de Janeiro. Um rio que vai dar ao mar, porque navegar é preciso. Ler, ainda mais.

Manuel S. Fonseca, editor

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