Os meus livros de Novembro

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Sim, o grande Charles Dickens voltou com um fantasma muito lá de casa. Lembram-se? É O Cântico de Natal e começa com o velho Marley a bater a bota. Bate a bota, mas não se deslarga e, por isso, o quilométrico e verdadeiro título deste livro é Um Cântico de Natal, uma história de fantasmas no Natal, o meu primeiro livro de Novembro.

E peço e não peço desculpa, mas como editor atrevo-me a dizer que sou um anti-Scrooge. Não me acusem de ser «um velho pecador sovina, amargurado, agarrado, sôfrego, forreta, ganancioso». Além de Dickens, ainda tenho mais sete livros para animar as Festas. Boas Festas.

Um deles é para se ler com seriedade e de espírito aberto: Colonialismo, um Juízo Moral, de Nigel Biggar, é uma turbulenta viagem pelo Império Britânico, tão polémica que o primeiro editor inglês o cancelou. Foi a melhor recomendação para eu o publicar. Faz parte da colecção Os Livros Não se Rendem, que a Fundação Manuel António da Mota e a Mota Gestão e Participações têm a generosidade de oferecer à Rede Nacional de Bibliotecas Públicas.

Não se chamava cancelamento, mas era exactamente a mesma coisa, e disso nos fala Censura, o Lápis Azul do Silêncio, obra organizada por Ana Aranha, com 20 entrevistas, de Adelino Gomes a Sérgio Godinho, a quem sofreu nos textos e na pele os riscos azuis do lápis censório da ditadura de Salazar e Caetano. Quem nos ajuda a lembrar tudo isto é José Jorge Letria e a Sociedade Portuguesa de Autores, nossos co-editores.

Vindo desse tempo, mas atravessando a nossa democracia, levado pela mão de Mário Soares, Luis Parreirão é o autor (em modo de entrevista) de Razão de Ser, um livro sobre o que mudou em 40 anos, mas sobretudo sobre o que temos de «ousar» mudar para atingirmos a plena dignidade humana, para «ousar» governar, sem ditaduras, um mundo policêntrico. É um livro falado e que fala para o futuro.

A mão do Fundo Cultural da Sociedade Portuguesa de Autores está por trás do olhar sobre Lisboa de Victor Sousa Lopes. O autor deambulou por aí, por praças e jardins, compulsou textos antigos e escreveu O Espaço Ilimitado de Lisboa: Lisboa Esquecida – Lisboa Presente. É um livro que, ah pois, cheira a Lisboa…

Têm sapatinho para mais três? Metam música nisto. Chama-se Histórias de Jazz. E escreveu-o Leonel R. Santos, com uma ilustração altamente cool de Nuno Saraiva na capa. Ali se contam 13 histórias e há sempre um grande músico ou um inesquecível tema a rematar a história. As histórias são inverosímeis – «de amores desesperados, amizade, sexo, sangue, suor e lágrimas, traição, humor e fantástico» – ou seja, a minha vida… ou será a sua?

Este livro ainda cabe no sapatinho, o título é que não: Napoleão na Praia, Um Estratega na Toalha e na Areia, de Richard Fremder, oferece-nos esse insano imperador francês em água de rosas, com um intrigante capítulo que se chama «Caso-me com uma barriga». Eis o que tenho a dizer, tem uma bela capa – very fun – e é bom: informação bem digerida.

Nada fun, mas very, very é Sobre os Sonhos, do velho e saudoso Sigmund Freud que se vem juntar ao catálogo da nova chancela, a Crisântemo, que a Rita Fonseca orienta. Está aqui, em 100 páginas, escrita pela mãozinha do próprio Freud a súmula da sua interpretação dos sonhos. De uma clareza meridiana, estão lá sonhos que não confessarei que podiam ser os meus, já que eu, fonte de irreprimível erotismo e sexualidade salutar, está claro, nem recalco, nem reprimo. Já os sintomas obsessivo-compulsivos…

Adorei e para o ano, diz-me a Rita, vamos publicar mais uma catrefada de bons Freuds. E é com esta promessa, oito livros sobre a mesa, que vos desejo (eu e toda a Guerra e Paz) que vivam as Festas como o resgatado Scrooge, no fim do livrinho de Dickens: «se havia alguém que sabia viver bem o Natal, era ele. Que o mesmo se possa dizer com verdade acerca de nós, de todos nós! E assim, como dizia o pequeno Tim, Que Deus Nos Abençoe a Todos!»

Ia dizer que vos amo, mas talvez seja estar a levar as coisas ligeiramente longe de mais. Um abraço natalício.

 

 

 

Manuel S. Fonseca, editor

 

 

 

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