Os meus livros de Novembro

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Não houve pés mais transumantes do que os pés do poeta francês Jean Nicholas Arthur Rimbaud. A pé, Rimbaud foi e fugiu de Paris, a dois mil metros de altura atravessou os Alpes em gelo, traficou, pé à frente de pé, pelos inclementes desertos abissínios. Eram pés que ansiavam pelo paraíso: acabaram por levar Rimbaud ao inferno. Livro maldito de um poeta maldito, Uma Temporada no Inferno, com tradução de outro poeta inquieto, João Moita, e com introdução minha, é o meu bilhete para entrar na estrada dos meus livros de Novembro. Com Rimbaud, on the road.

Na estrada azul que é o livro de Ramiro Santos, O Algarve em Fios de Histórias, o mar e as cidades algarvias enchem-se de descobertas, encantos, amores, conquistas: são histórias da grande História deliciosamente contadas, numa bela homenagem a uma fita de terra e mar que ajudou, afinal, a mudar a geografia e a história do mundo.

Pode ainda haver uma estrada serena, de reflexão, para falarmos de Putin e da Ucrânia? Das mãos do investigador Bernardo Teles Fazendeiro, recebi este A Guerra Quente e a Paz Fria: Sobre as Origens da Guerra da Ucrânia: nele se busca uma prudência internacional que arrefeça os ímpetos dos pés e das botas da guerra na grande estrada europeia.

Desanuvio. Há um novo livro sobre as estradas portuguesas: Brisa: 50 Anos – Uma História do Futuro é um vivo passeio de Miguel Figueira de Faria pela história de uma empresa devota da inovação tecnológica, um passeio que Francisco Pinto Balsemão quis prefaciar.

On the road, numa rua de Dallas, um tiro atravessou a cabeça de John F. Kennedy: o que morreu ali? Não foi só Kennedy, foi uma parte da América e do mundo que essa bala liquidou. Do autor de que mais livros publiquei, José Jorge Letria, Tiro e Queda: Mortes que Mudaram a História é uma incursão nómada por tiros fatídicos, os que liquidaram o nosso rei D. Carlos ou Martin Luther King, os tiros que mataram Lincoln ou Lumumba, Che Guevara ou Bin Laden.

Deixem-me falar de pés angolanos. Primeiro dos coreografados pés bailarinos da Companhia de Dança Contemporânea de Angola: em textos de Ana Clara Guerra Marques e fotos arrebatadoras (é verdade!) de Rui Tavares são os pés do álbum Companhia de Dança Contemporânea de Angola: 30 Anos de Resistência. À venda em Angola e, só para happy few, no nosso site em Portugal.

Em Angola e em Portugal, Cuéle: O Pássaro Troçador leva-nos ao remoto Sudoeste angolano, terra de welwitschia. Seguimos os pés deambulantes de Jorge Arrimar: entre memória e ficção, a que os indecifráveis gritos roucos do pássaro troçador acrescentam mistérios e contradições.

Não sei se o amor é estrada larga ou carreiro ínvio e acidentado, mas sei que nenhum livro recolheu, como este, um leque tão variado de gritos de amor: são As Grandes Cartas de Amor, com organização de Elizabete Agostinho. Cartas de êxtase orgástico, de ruptura, de amor não correspondido ou de amor proibido. De Maria Barroso a Mário Soares, cartas de Balzac, de Freud, de Josefina para Napoleão, de Florbela Espanca, de Virginia Woolf ou de James Joyce.

Estrada longa, cheia de cruzamentos e bifurcações, é a que o economista e filósofo Friedrich A. Hayek nos abre em Arrogância Fatal: Os Erros do Socialismo, a novidade do mês da colecção Os Livros Não Se Rendem. Arrogância, explica-nos, é pensar que se pode moldar toda a humanidade ou toda uma sociedade a caminhar apenas numa única estrada.

E nenhum livro tem tantos pés como o livro de revelações (ou serão escândalos) de Rui Miguel Tovar, Lembrar Um Mundial para Esquecer, fruto de testemunhos de muitos dos intervenientes. Estão aqui os pés de João Pinto, os pés de António Oliveira, os pés de toda a selecção nacional de futebol que esteve no Mundial da Coreia de 2002. Foi um Mundial que, por não termos sabido tratá-lo bem com os pés, recordamos pelos motivos mais infames.

Estes são os meus dez livros de Novembro. Poesia, romance e ensaio: com estes pés me faço à estrada. Gostava que viessem comigo.

Manuel S. Fonseca, editor

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