Que bem se servem. Elas a ele. Ele a elas.

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“Pela manhã, um bando de donzelas invadiu o quarto em lágrimas, exigindo que ele, com o seu poder, as salvasse. Sentado na cama, e cobrindo a nudez com o lençol, ele olhava alternadamente Dona Urraca, que permanecia deitada, e as donzelas. E, estranhamente, a sua perplexidade era perturbada pelos seios da principal das três principais, que, na aflição, pareciam, tesos como não os de Dona Urraca, saltar do vestido.

Mas que podia ele fazer? E não conseguia pensar em nada, com aqueles seios diante dos olhos. Ouvia vagamente a vozearia, quando estendeu a mão para um deles, o puxou para fora do vestido e o apertou.

Foi como que um sinal esperado. A donzela saltou sobre ele, que só teve tempo de pôr o gorro para fazer-se invisível. Mas, cercado como estava, de nada lhe valeu, porque umas o agarravam, assim invisível, enquanto outras se sucediam sobre ele. E teria por certo morrido ou sido despedaçado, se não tivesse conseguido levar a mão ao gorro e determinar-se a chegar para contento de todas.

Quando aquilo terminou, a quadra parecia um cemitério delas, que jaziam por cima do leito, e pelo chão, umas sobre as outras, numa confusão de pernas e braços, e seios e cabeças, descompostas, e serenamente adormecidas.

E só então ele viu que Dona Urraca estava de pé, ao lado do leito, onde ficara sempre. Muito a medo, sem tirar o gorro, ergueu os olhos por ela acima. O rosto calmo e risonho fitava-o como se o visse; e, com voz suave e carinhosa, Dona Urraca murmurou:

— Não precisas continuar invisível…

Ele não tirou o gorro, e ficou calado.

— Podes aparecer… Não fiques como um menino que praticou uma travessura e tem a certeza de que a mãe lhe vai bater assim que ele sair do esconderijo.

Mas ele não tirou, e, levantando-se devagarinho, desceu para ao pé dela, e empurrou-a de repente para o leito. Dona Urraca ria. E foi uma brincadeira que só terminou com as donzelas já todas em volta, aclamando e dando palmas e cantando:

 

Dona Urraca tem um físico
que cura toda maleita.
Quando Dona Urraca geme,
logo o físico se deita.

Dona Urraca é boa dama
para as donzelas que tem.
Quando elas adoecem
logo o físico ali vem.

Dona Urraca tem um físico
que cura toda maleita.
Quando Dona Urraca geme,
logo o físico se deita.

Põe o gorro na cabeça,
não se vê como está nu.
Mas ao dar a medicina
é como tutano cru.

Dona Urraca tem um físico
que cura toda maleita.
Quando Dona Urraca geme,
logo o físico se deita.

 

Mas Dona Urraca, levantando-se e compondo o vestido, fê-las, com um gesto, calarem-se. E disse:

— Agora, para meu orgulho, todas conhecem por experiência a minha felicidade. E, porque teve a ousadia e a coragem de vo-la dar a conhecer, com um gesto de verdadeiro homem livre, ainda o amo mais, se é possível. Eu não quereria para mim, só para mim, antes de todas saberem a minha fortuna, o homem que me salvou.”

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