Um anjo chamado Venâncio

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Há momentos na vida de um editor tocados pela graça da asa de um anjo. Vejamos, conheci Fernando Venâncio, quando Helder Guégués, então autor da Guerra e Paz, o convidou para apresentar o seu livro, Em Português, Se Faz Favor. Conversámos uns dez minutos à sombra de uma estante no meio da livraria Bertrand Picoas-Plaza. Da segunda vez, a asa do anjo foi a mão de Marco Neves, outro autor da Guerra e Paz, que o convidou para novo lançamento. Ao meio amor da primeira vista juntou-se o meio amor deste breve encontro. Dois episódicos meios amores são matéria de se tirar a limpo e a amizade desinteressada e o espírito voluntarista de Marco Neves organizou um almoço que os deuses quiseram que fosse em Évora. Nasceu, assim, a uma mesa alentejana a língua portuguesa. Perdão, e eu sei que exagerei e não tem graça, nasceu assim o Assim Nasceu uma Língua, acordo rematado com um puro café sem bagaço ou licor.

O que depois aconteceu, quando este livro de capa vermelha entrou nas livrarias, é já, mais do que história, lenda. Já devo ir em dez reimpressões da obra que arrebatou os portugueses, de eruditos a celebridades, incluindo políticos e os amorosos leitores comuns, que são quem dá vida aos livros. Exaltou os espíritos na Galiza, tanto que uma editora galega já comprou os direitos.

Bem sei, professor Venâncio, que não sou digno de entrar na tua morada, mas atrevo-me, por honra da firma, como diria outro antigo mestre, vir sussurrar aos ouvidos dos leitores da Guerra e Paz algumas razões pelas quais devem ler com urgência este livro, se ainda o não fizeram

Pela sedutora graça da escrita. É um ensaio, mas conduzido pelos ágeis dedos da ironia, da leveza, de pequenas histórias ou episódios.  

Pelo rigor do conhecimento. Traça-se aqui uma história da origem e da evolução da língua portuguesa, palavra a palavra, como se assistíssemos a conquistas militares a assaltos a castelos, a retiradas dramáticas e a reconquistas gloriosas.

Pelo triunfo da ciência linguística, da sua razão e lógica, desfazendo-se preconceitos. Curiosamente, este é um livro anti-populista, “populismo” de que o Acordo Ortográfico de 1990 é expressão. Esta viagem de Fernando Venâncio pela origem e história do nosso idioma expõe  a língua portuguesa ao convívio largo e aberto com outras línguas, a começar pelo galego, passando pelo espanhol e francês, e abrindo-a hoje ao mundo e à possibilidade de se desdobrar noutras línguas, de que é cada vez mais exemplo o português do Brasil.

De tudo isto é testemunho este capítulo que, em tempos de confinamento, deixamos ao leitores da Guerra e Paz, aperitivo para que levem já para casa o livro inteiro.

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