Uma edição de que nos orgulhamos

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Exma Senhora Ioana Bivolaru, Embaixadora da Roménia em Portugal, Exmo Senhor Daniel Nicolescu, Director do Instituto Cultural Romeno em Lisboa, meu caro amigo Gelu Savonea, director-adjunto do Instituto, minhas senhoras e meu senhores.

Eu sou o feliz editor da Antologia de Poesia Romena Contemporânea. Olho para este livro de 600 páginas e sinto que fui bafejado pela sorte. Caíram-me no colo 27 poetas contemporâneos e mais de 200 poemas, sem que eu tenha nisso praticamente nenhum mérito.

Vejamos, este livro deve-se, antes de mais, a um trabalho de bastidores feito com cuidado e elegância pela equipa do Instituto Cultural Romeno em Lisboa. O director, Daniel Nicolescu, e em particular o meu amigo Gelu Savonea cativaram-me para as graças e delícias da cultura romena, mostrando-me a dignidade e a excelência da sua tradição literária e a pujante criatividade contemporânea.

Em segundo lugar, e depois da publicação do poeta Dinu Flamand, que me foi apresentado e vivamente recomendado por António Lobo Antunes, estabeleci com o Dinu uma corrente de simpatia humana magnífica, e foi o Dinu Flamand que me disse que se eu publicasse esta Antologia entraria no domínio dos Bem-aventurados e seria também meu o reino dos céus onde estão todos os poetas. Ora, eu não tinha como não acreditar no meu amigo Dinu Flamand.

Em terceiro lugar, o Instituto Cultural Romeno em Bucarest e o Museu Nacional de Literatura Romena, com competência e com paixão literária entregaram-se ao aturado trabalho de selecção que está reflectido na escolha dos 27 poemas e dos seus poemas que este livro contém.

 Em quarto lugar, e não sei se deveria ser o primeiro, esta antologia tem um grande tradutor, o senhor Corneliu Popa. Já conhecia o Corneliu de anteriores trabalhos e descobri nele uma extraordinária sensibilidade poética, quando ele traduziu para mim Sombras e Falésias, o livro de Dinu Flamand que publiquei há dois anos. A admirável fluência de Corneliu na língua portuguesa, a sofisticação do seu léxico, deram-me toda a confiança para avançar neste projecto. Esta edição da Guerra e Paz ediotres, nesta sua versão bilingue, é – podemos dizê-lo – uma criação de Corneliu Popa, que é, para mim, o 28ª poeta deste livro.

Por fim, há o pequenino mérito editorial, da revisão, da paginação, desta bela capa com a foto da obra de Brancusi. Ora, mesmo esse pequeno mérito não é meu. Os trabalhos editorias são das minhas colaboradoras Inês Figueiras e Marília Laranjeira, a paginação e a capa são de Ilídio Vasco.

Quero, por isso, agradecer a esta longa lista de pessoas apaixonadas e competentes terem feito esta antologia de que eu, na minha preguiça diletante, sou um feliz parasita. Sinto-me honrado por estar hoje aqui a usufruir de um prazer que gente tão boa me proporcionou.

Peço-vos, como leitores, que se entreguem à mesma preguiça, ao mesmo langor diletante, e leiam, degustando palavra a palavra, a febre romântica, a febre modernista, a febre lírica, a febre imaginativa dos 27 poetas desta Antologia da Poesia Romena Contemporânea. Muito obrigado.


Na Maratona de Leitura, foram estas as escolhas do editor da Guerra e Paz:

Eu só podia, é claro, escolher um poema de Dinu Flamand. Por tê-lo publicado e por António Lobo Antunes ter dito da poesia dele esta frase que não admite discussões: “Isto é Grande Poesia, sem uma baixa, sem uma falha, sem um tropeço.”

Mas sobretudo escolhi Dinu Flamand por reconhecer na poesia dele um lirismo que vem acompanhado de uma sentida sombra de tristeza, de perda e desilusão. Leiam estes dois poemas:

Fotografias antigas e ameixas secas
na mesma gaveta;
das duas
primeiro tiraram o miolo
depois espremeram o tempo.

Cinco gerações de rostos
em tons sépia que ultrapassam o século
mas quem reconhece o Bigodes?
e para quem era o «pequeno obstáculo ao esquecimento»
a mulher carnuda sufocada num espartilho?

 Sob a mesma lua amarela içada do juncal
com o mesmo cortinado pintado ao fundo
retiveram a respiração
nos seus fatos de domingo um a um.

O esquecimento junta-os numa única geração
e as ameixas tornaram-se pedras negras.

 

**

Verbo da força do meu braço
choro dos meus olhos fechados
andar das minhas pernas firmes
chuva ainda a dormir na relva
tosse a sussurrar ao ouvido do meu medo
peneira por onde joeiro o pó das estrelas
vazio com acordes de música indistinta
saudade daquilo que nunca acontece
fogo debaixo do caldeirão onde fervo
o suco negro
zunzum das noites de insónia
pó do amor sentido na língua
o que estou aqui a fazer? e como?
o que invoco barafustando? o que evoco
equívoco?

quem
para a minha mão de sombra a sua mão estenderá?

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