As maravilhosas mentiras do mês de Maio

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É que nem morto este vosso humilde editor vos mentiria. E começo, assim, com juras de amor, só para vos dizer que o primeiro livro de Maio da Guerra e Paz se chama Os Mortos. Escreveu-o, com mão elegíaca, James Joyce: uma novela que sufoca e enternece. E também não é mentira que o segundo livro do mês se chame Enfermaria, peregrinação de dor e memória da poetisa Ana Paula Jardim: e não é mentira porque só há poesia onde há verdade e verdade é o que povoa de ironia, e não menos transcendência, outra digressão poética, a do último livro de Maio, Revolver, de Sérgio Almeida.

E sim, já eu mentiria se não reconhecesse o toque de macabro que emana (palavra ligeiramente mentirosa) de O Esqueleto de Camilo Castelo Branco: é um dos grandes romances portugueses, e isso é que não é mesmo mentira. E quem à morte chamava uma mentira, negando-a, era o herói de Impressão Indelével, história de Camilo, primeiro livro publicado pela Guerra e Paz, em 2006, e que agora recuperamos, incluindo o verdadeiro e intenso prefácio de João Bénard da Costa. O Esqueleto e Impressão Indelével vestem de camilianas e macabras verdades (ou mentiras?) a colecção Clássicos Guerra e Paz.

Já o livro que se segue é todo e tudo mentira. Meia mentira de Mark Twain e outra meia [mentira] de Oscar Wilde. Se um escreveu A Decadência da Arte de Mentir, ao outro devemos A Decadência da Mentira: estão juntos, mentira contra mentira, num só livro que este vosso escriba apresenta na breve introdução Não Vou Mentir: está de volta a colecção Livros Amarelos.

Chega de mentiras. João Maurício Brás, filósofo e autor, vem inquietar-nos com o seu O Atraso Português, Modo de Ser ou Modo de Estar? Mentiria se dissesse que sei responder a essa pergunta excruciante. O livro sim, sabe!

Quem, a todas as mentiras sobre a língua portuguesa, responde letra a letra, só com verdades, é o linguista Marco Neves, no livro Português de A a Z, Armadilhas e Maravilhas da Língua. Com verdades e graça.

Agora, o que o alemão Jurek Becker nos põe nas mãos e no nosso imaginário é mesmo o triunfo maravilhoso da mentira: escreveu Jakob, o Mentiroso, romance delicado e empolgante sobre a sobrevivência num gueto que os nazis esmagam. É verdade é mais um dos nossos romances de guerra e paz.

Um belíssimo mentiroso, na mais límpida acepção do termo, era Machado de Assis. Num romance, A Mão e a Luva, vamos ver quem, dos três pretendentes da protagonista Guiomar, melhor mente ou diz a verdade. E o que é verdade ou mentira na subtil arte da pintura? Edith Wharton cria um herói incompreendido e convida-nos a segui-lo em Falso Amanhecer, novela que enriquece a colecção O Admirável Mundo do Romance.

Duas biografias, essa esplêndida arte de contornar a mentira e dizer muitas verdades, enfloram este mês de Maio da Guerra e Paz editores. A primeira, a biografia de Raúl Caldeira, O Pioneiro da Gestão de Pessoal, acolhem-na a Fundação Amélia de Mello e a Nova SBE na colecçãHistórias de Liderança; a segunda, escrita por Camilo Castelo Branco, indefectível romeiro da fantasia e da verdade, expõe os enganos e imposturas da falsa grandeza no seu Marquês de Pombal, Réu Confesso.

Treze livros que, de mentira em mentira, e a crer em Mark Twain e em Oscar Wilde, nos restituem a arte de procurar a verdade, não menos do que toda a verdade.

Manuel S. Fonseca, editor

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