Fernando Venâncio nomeado Juiz Honorário do Couto Misto

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A Guerra e Paz felicita o professor Fernando Venâncio pela nomeação de Juiz Honorário do Couto Misto, um território entre Portugal e a Galiza, que se manteve independente durante 800 anos.
 
Impedido de se deslocar até Couto Misto, Venâncio fez-se representar por um amigo: Marco Neves. Também ele autor da Guerra e Paz, transmitiu à Associação de Amigos do Couto Misto, as palavras de agradecimento de Venâncio. Passamos a partilhar o discurso:

 

COUTO MISTO

 

Bom dia.

Quero começar por agradecer à Associação de Amigos do Couto Misto a simpatia de me nomear como Juiz Honorário desta região historicamente tão importante. Foi uma honra inesperada, que eu muito valorizo, como indivíduo e como natural do país a Sul.

Desejo também agradecer, de coração, ao Professor Marco Neves por ter aceitado vir aqui representar-me. O meu actual estado de saúde não me permite estar convosco nesta solenidade. Espero poder ter, um dia, esse prazer.

É com especial gosto que recebo a nomeação que hoje se concretiza. Numa curta época da vida, entre 1973 e 1978, não pertenci a país nenhum. Tendo desertado do exército que travava, em África, uma guerra colonial de três frontes, era-me recusado o passaporte português. Anos depois, e no intuito de poder visitar Portugal, adquiri uma nacionalidade estrangeira. Fui, portanto, nesse período de cinco anos, uma espécie de Couto Misto.

Permita-se-me mais um breve transcurso autobiográfico. Durante a minha longa estadia nos Países Baixos (de quase 50 anos), publiquei toda uma série de cursos de língua portuguesa para holandeses e flamengos. A minha editora, ainda hoje a mais importante em matéria de obras de ensino superior, chamava-se, e chama-se, Editorial Coutinho. Sabemos que os donos descendem de refugiados judeus portugueses. Mas foi mais um encontro que tive com esse vocábulo tão galego, um «couto».

Hoje em dia, uma obra minha tem, em Portugal, um inaudito sucesso editorial. Assim nasceu uma língua vai numa sétima edição em menos de quatro anos, na editora Guerra e Paz, onde também o Marco Neves publica. Tenho, além disso, o prazer duma edição galega (na Galaxia), enquanto também se prepara uma brasileira.

Deste modo, é agora, em Portugal, um segredo já bastante público que uma grande parte da história do português, é, na realidade, uma história do galego. Até hoje não fui insultado, menos ainda importunado. Isto pode querer dizer que essa nova narrativa do idioma não causou alarme em mentes portuguesas. É um bom sinal. Faz-nos crer que a Galiza e o galego estão a ganhar, no nosso país, uma marca crescentemente positiva.

Meus amigos:

Quero desejar para a vossa, e agora nossa, Associação um longo e feliz futuro. As pátrias podem ser maiores ou menores. Mas, dentro do coração, elas não conhecem tamanho.

Um grande e sincero obrigado a todos.

 

Fernando Venâncio

Mértola, 1 de Julho de 2023

 

 

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