Eugénia de Vasconcellos é autora de Sete Degraus Sempre a Descer, um livro de poemas que a Guerra e Paz acaba de publica. Aceitou responder que, a partir de agora, sempre faremos aos nossos autores, inaugurando uma rubrica muito especial, de contacto com os nossos leitores neste nosso Livros, Labirinto e Livros.
Eugénia de Vasconcellos é também autora de O Quotidiano a Secar em Verso.
Que segredo encerra a expressão «Sete Degraus»?
A escada, os degraus, são o símbolo por excelência da ligação entre o Céu e a Terra. Da relação estabelecida. Das trocas dessa relação. Da verticalidade humana, da ascensão. Também o homem e a mulher são o Céu e a Terra, respectivamente. Também o Amor é a escada que oferece os degraus para o encontro de ambos. Porém estes degraus descem. Só descem. E são sete. Sete é um número de totalidade. Nada há a acrescentar: o ciclo fechou-se. O sétimo dia chegou. Fim. É a recolocação de um eu, que deixou de ser eu-tu, no centro desconstruído e mais fundo e mais escuro de si mesmo sabendo bem que que a subida tem tanto de impossível quanto de inevitável: não há fim que não encerre, em si mesmo, o princípio.
A Poesia pode ser um reset no quotidiano?
Ou melhor, a poesia infiltra o quotidiano, revela-o? Sou poeta. Não há distinção: a poesia e o quotidiano, ou em sentido amplo, a vida, coincidem.
O autor brasileiro Marco Lucchesi considera a sua obra uma «Poesia sísmica, de larga magnitude». É assim que sente a sua obra: como um sismo capaz de abalar os leitores?
O sismo é como Marco Lucchesi refere ter percebido o que escrevo. Eu vivo com o que escrevo, percebo-me, nessa dimensão que é a escrita, diferentemente. É uma naturalidade em mim. Sei que escrevo com independência absoluta. Sei que só essa liberdade me serve como eu a ela. Sei que escrevo com a verdade que sou no momento em que escrevo. Com essa verdade vou ao mundo e ele vem a mim. Sei que esse momento se desfaz mal o agarro. Sei que é assim. Agora se me está a perguntar se a minha força poética é capaz de abalar os leitores, não tenho como responder-lhe – só um leitor poderá. Eu não sou forte, nunca fui, mas não deixo que isso me mande. Faço como se fosse, principalmente quando pressinto a minha fraqueza. Mas sim, tenho a mais funda e alta convicção de que há uma Força incomensurável, Força Maior, de que faço parte, e que passa por mim, e me leva adiante. Onde Ela quiser. Também na poesia.
