Os meus livros de Maio

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Nenhuma alarvidade nos nove livros de Maio da Guerra & Paz, nem mesmo no livro que dessas alarvidades se reclama, o intrépido, inteligente e curiosíssimo Dicionário Sério de Calão, Javardices e Alarvidades, que o sempre inquieto e irrespeitoso João Pedro George assina. A ironia que o anima faz pendant, atrevo-me eu a dizer, com o trocista, sarcástico e altamente desconstrutivo romance com o belo título Coração, Cabeça e Estômago, do insatisfeitíssimo Camilo Castelo Branco.

Já Camilo, até pelo que que escreveu sobre as cartas de Camões, havia de gostar de ver o seu romance publicado numa fornada que, com o apoio da Fundação Gulbenkian, inclui o encontro de dois titãs, Luís Vaz de Camões e Jorge de Sena, em Os Lusíadas e a Visão Herética. A Guerra & Paz comemora assim os 500 anos de Camões, com este livro em capa dura, faces do miolo pintadas à mão, lombada à vista, ou seja, numa edição que quer ser um brinco e uma raridade, juntando a versão integral de Os Lusíadas a dois textos em que Jorge de Sena nos explica porque devemos ter orgulho intelectual, filosófico e literário no mais esplendoroso poema da literatura em língua portuguesa. (Eu amo este livro: tinha de dizer isto. E obrigado Isabel de Sena por me ter ajudado a viver esta aventura!)

Deixem-me mudar de agulha: outro acontecimento editorial é a chegada do 1.º volume da História do Fascismo, do historiador italiano Emilio Gentile. São as primeiras 700 páginas de uma obra monumental: as próximas 700 chegam – 2.º volume – em Junho. Uma vénia aos meus parceiros, a Fundação Manuel António da Mota e a Mota Gestão e Participações: só a vossa generosa ajuda, disponibilizando a edição a toda a rede nacional de bibliotecas, permite que esta investigação do mais alto rigor chegue até nós. (Caro Luís Parreirão, o meu amigo é o interlocutor que faz feliz qualquer editor. Não lhe perdoo é que goste mais de livros do que eu!)

E como vou agora falar de Insubmisso, Memórias de um Polícia? Hoje que a justiça portuguesa vive um fogo cruzado entre políticos e a Procuradoria, entre magistratura e ministério público, este livro  mostra-nos o árduo caminho da investigação policial para chegar à verdade, desmontando tantas mentiras: Teófilo Santiago foi o polícia de três processos marcantes, Face Oculta, Apito Dourado e Aveiro Connection. Escutas, pressões, demissões, Teófilo Santiago leva-nos aos incendiários bastidores (há revelações, sim!) desses casos, na companhia do jornalista Eduardo Dâmaso. (Se vai ser polémico? Ó diabos, isso não adivinho, mas é rigoroso, que é esse o middle name destes meus autores)

Falemos de poesia, desses «jovens e belos como a brisa das manhãs», os amantes de Lisboa, que Ana Paula Jardim, vencedora do Prémio de Poesia Glória de Sant’Ana, deixa que lhe invadam o seu novo livro, Rua do Arsenal, talvez para contarem «as pedras como quem lê histórias». Como se pode não o ler?

E entre a poeta e o romancista de que falo a seguir, deixem que invoque o Prémio Nobel. O jovem cientista Stefano Sandrone, no seu Vida de Nobel, entrevistou 24 Prémios Nobel, 9 da Química, 4 da Física, 8 da Medicina e 3 da Economia. É um livro de vida, de ciência, de desafios e descobertas incríveis.

Uma descoberta perturbante e convulsa é a do herói de Nascido de Ninguém, primeiro romance de Frederico D’Orey. Com grande ritmo, acidentada, sem descanso, a prosa de D’Orey leva-nos ao coração da Segunda Guerra Mundial, às suas sequelas e sombras sórdidas, sem deixar de ser um romance portuguesíssimo, com Campo de Ourique em fundo. Estreia a não perder.

E fecho com o meu amigo Paulo Nogueira. Este é o terceiro livro que me manda do Brasil. Um novo ensaio sobre o Ocidente e o wokismo: O Cancelamento do Ocidente. Tem um subtítulo longo: «A sociedade que criou a democracia e o Estado de Direito está  a autodestruir-se. Como? Porquê?» O Paulo não se resigna e convoca-nos a usarmos o nosso melhor contra essa vaga destrutiva: o humor, a arte, a tolerância e a ciência. (Komé, Paulo, meu kamba, aí vai o meu candando: estamos juntos nessa luta!)

Da nova chancela, a Crisântemo, um livro ambicioso, com mais de um milhão de exemplares vendidos em todo o mundo: A Chave da Tua Energia, de Natacha Calestremé, oferece-nos 22 métodos para eliminar o cansaço, soltar a energia aprisionada no nosso corpo. Pergunta minha: há algum mal em tentar preencher o vazio com amor e luz?

E aqui está, são os livros de Maio, maduro Maio. Quem os pintou?

 

 

Manuel S. Fonseca, editor

 

 

 

 

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