Eduardo Lourenço

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Eis o livro que deveríamos ler, hoje, na morte de Eduardo Lourenço: a sua entrega, cândida, sem rodeios, nesta livro-entrevista de vida, pensamento e obra.

Eduardo Lourenço: A História É a Suprema Ficção devia ser – e é – um auto-retrato de um dos nossos maiores pensadores. Numa longa entrevista, Eduardo Lourenço fala de si, da sua vida e obra.

Mas, de uma forma irresistível, ao falar de si a José Jorge Letria que o entrevista, Eduardo Lourenço prefere ou acaba por falar sempre de Portugal, esse país «ressonhado, reinventado, quase totalmente onírico».

Este é um livro essencial para se conhecer Eduardo Lourenço e a mundividência que, com a sua morte, nos abandona. Ninguém nos voltará a pensar assim, com a serenidade estóica de Lourenço, combinando literatura, filosofia, História, psicologia e sociologia. Desse tipo de saber, enciclopédico, desse saber em passeio pelas palavras, Eduardo Lourenço era o último depositário português. Ninguém nos voltará a dar um tão heterodoxo sentido de identidade, combinando cristianismo e marxismo, Shakespeare e Camões, Dante e Fernando Pessoa, saudades e mitologias.

Deixamos aos leitores da Guerra e Paz um excerto. Eis Eduardo Lourenço a falar de Portugal e do fim do Império:

Voltámos à Europa, de onde nunca deveríamos ter saído, mas à qual pertencemos mesmo antes de ter nascido. Agora estamos envoltos num destino comum, protegidos e desprotegidos ao mesmo tempo. Eu sou muito europeísta, de maneira que ainda confio que o destino europeu nos proteja de uma subalternidade definitiva na História que nos ponha fora da História e que a Europa recupere um pouco o papel que foi o seu durante milénios e que Portugal continue a ser o país miticamente sonhado pelos nossos grandes autores, que é fundamentalmente e será sempre o país de Camões. Um país que, diante de dificuldades que naquela altura pareciam insuperáveis, passe a ser um país ressonhado, reinventado, quase totalmente onírico, aquele que António Vieira imaginou como uma espécie de miniatura, um Portugal império universal do Cristo e depois da Mensagem, que é outra coisa, que é o sonho mais próximo de nós, um país que é uma espécie de Menino Jesus das Nações, como diria Agostinho da Silva. E esse pequeno país é maior do que ele próprio. Nessa dimensão, quase onírica dele mesmo, fomos um país da inquisição é que reside a sua originalidade, a sua singularidade. Nós somos um país que empiricamente se espalhou, realmente, no mundo, mas o mais interessante é isso: permanecer. É um país que se dissolveu no mundo. Mas essa famosa dissolução, dita na Mensagem, de facto é a nossa dimensão messiânica, a nossa dimensão poética. Sem essa dimensão, nós ficamos muito mais pequenos do já somos.

Eduardo Lourenço: A História É a Suprema Ficção, retrato de Portugal, é um autoretrato de Eduardo Lourenço, que se confia às perguntas de José Jorge Letria. Um livro da Guerra e Paz, que só a ajuda e dinâmica de serviço público da Sociedade Portuguesa de Autores tornou possível. A ler agora.

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