Eu pensava já não voltar a sentir o sabor de Guerra Fria, que causticou a minha infância. E eis que, 32 anos depois de ver cair o Muro de Berlim, a Europa volta a mortificar-se com o medo da guerra atómica e com a raivosa invasão da Ucrânia. Um editor tem a obrigação de responder: este mês, publico Atlas da Guerra Fria – 1947-1990: Um Conflito Global e Multiforme. Para conhecermos a História e não a repetirmos.
E peço aos leitores da Guerra e Paz editores que leiam o nosso Nietzsche: o Combate com o Demónio, biografia escrita por Stefan Zweig: vêm de longe os demónios a pairar sobre a Europa. Mais demónios: sobre os que atormentam os militantes comunistas portugueses, escreve Domingos Lopes neste seu 100 Anos do PCP: do Sol da Terra ao Congresso de Loures. E dos demónios de guerras africanas, coloniais e pós-coloniais, testemunha o angolano José Severino em Batalhas, Peripécias e Economia num Recanto de Angola.
Há sempre uma réstia de esperança. Vejam este livro, com centenas de fotos e memórias pungentes de médicos, enfermeiros e doentes que viveram a experiência da pandemia: Imagens do Cuidar: o CHULC e a covid-19. Para não esquecermos esse vendaval de dor: uma memória, muitos retratos.
E nestes tempos woke, de tanto activismo, tempo para lermos (In)justiça Social: Porque estão erradas muitas respostas populares a importantes questões de raça, género e identidade – e como saber o que está certo – o título é quase tão grande como o livro – é também tempo de escapismo: O Sorriso Contagiante dos Croissants, de Camille Andrea, é um romance feliz, ou pelo menos em busca da felicidade, cujo segredo está num café de um milhão de dólares.
Há música nos livros de Março: Foi Assim! Biografia de João Salgueiro e a História da Diapasão, história afinal de muita da música portuguesa dos anos 70 aos anos 2000. Há também tempo para deambular pelos clássicos: da Bola de Sebo, de Maupassant, uma obra-prima da novela francesa, à poesia de Paul Verlaine, em Festas Galantes, numa edição de arte, com a Calouste Gulbenkian.
Guardei para o fim a criação de uma colecção de romances contemporâneos, os romances de guerra e paz. Os dois primeiros romances, Mãe para Jantar, do americano Shalom Auslander, e Esta Ferida Cheia de Peixes, da colombiana Lorena Salazar Masso, são dois prodígios. De riso e humor negro, o primeiro, de lirismo tenso e talvez trágico, o segundo. Nunca a ficção literária da Guerra e Paz foi tão saborosa e comovente.
Entre os demónios e o romance, doze livros para começar a Primavera.
O Editor
Manuel S. Fonseca
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