Das Margens do Meu Rio é um livro de poemas de um autor tardio, irónico, quase ácido, Luís Alvellos, um dos meus livros de Fevereiro. E é das margens desse rio que nos sentamos a olhar – já não com a serenidade pagã de um Ricardo Reis – para A Culpa do Homem Branco, potente livro de combate de João Pedro Marques, oferecendo o corpo às balas para proteger o ensino da História nas nossas escolas do assalto tendencioso e irracional woke, racializado e «memorialista».
Das margens do meu rio é que parto com Camilo – esse, Castelo Branco – para descobrir Onde Está a Felicidade?, primeiro romance de um Camilo em flor, que Camilo pode não ser flor que se cheire, mas é flor que bem se lê! Inaugural é, também, a margem de onde Mary Shelley nos chama para contemplarmos o seu Frankenstein, primeira água em que se banhou a ficção científica, água gótica, água escura, gelada e escusa, romance de um terror alquimista.
E é nas margens do gigantesco rio que é o Atlântico, que se banha e meegulha o nosso novo Atlas Histórico, Atlas Estratégico: Da Hegemonia ao Declínio do Ocidente, da autoria de Gérard Chaliand e cartografia de Nicolas Rageau, mais de cem mapas e todos os segredos das manobras do mundo. São os Atlas da Guerra e Paz.
Em que margem do rio mataram Jonas Savimbi? Xavier Figueiredo, o autor de Savimbi, Um Homem No Seu Martírio, atreve-se a caminhar sozinho pela margem pantanosa da conspiração com que o MPLA enredou o muata umbundo e arranca vibração, carisma, pathos, de uma biografia assombrada. Noutra margem, festiva, lúdica, Horácio Piriquito dá-nos a biografia cantada – Olá! Então Como Vais? – de Tozé Brito, o mais sorridente e feliz dos cantores.
Da felicíssima margem do tempo que foi o Abril de 74, a margem dos meus 20 anos, Ramiro Santos traz a primeira memória do 25 de Abril: 50 Anos de Abril no Algarve é o primeiro livro da Guerra e Paz a comemorar os 50 Anos do 25 de Abril – em Março, há mais e mais – fazendo-nos voltar à inocência, à alegria, também ao delírio da descoberta da liberdade.
Eis – é isto, é isto – o que se vê das margens dos meus livros de Fevereiro.
Há sempre outras margens. A farmacêutica Luísa Santos escreveu Meno… Quê, nova edição da chancela Crisântemo, que fala com franca clareza sobre um tema só sussurrado, a menopausa, pois então!
E outra chancela, a Euforia, oferece-nos uma autora, Daisy Johnson, que ainda há pouco chegou às margens deste rio, e que viu Irmãs, eufórico romance deste mês, ser eleito pelo New York Times como um romance «notable». E é assim, da margem nova-iorquina, que vos digo «bye-bye». Até Março.
Manuel S. Fonseca, editor